Viníciu de Moraes e seus Amores

















SONETO A QUATRO MÃOS

Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.


Vinícius de Moraes
12/08/1945



POETA VINÍCIUS DE MORAES E SEUS AMORES

O Poeta Vinicius de Moraes alimentava-se de amores, de paixões. Totalmente desprendido de valores, matérias e ostentações, viveu tudo com grande intensidade e total liberdade.

Apaixonado pelas mulheres, casou-se nove vezes e dizia que “A maior coisa do mundo é dar amor e receber amor de volta”. Assim, o soneto que escolhi resume, se é que um poeta pode ser resumido, este traço da vida de Vinicius de Moraes – O amor incondicional.

Neste soneto, Vinicius revela a sua total ligação e dependência ao amor. Já na adolescência desvelou o seu lado sedutor; namorou invariavelmente todas as amigas de sua irmã. Casou-se em 1939 com Beatriz Azevedo de Mello, com quem viveu por onze anos. Com dois filhos, teve que preocupar-se em “ganhar a vida” e ingressou no Itamarati como Diplomata.

O amor para Vinícius não podia “esfriar”, era vital sentir-se apaixonado para não se tornar escravizado pela união sem a derradeira excitação. O poeta perecia quando não estava apaixonado, não tinha a inspiração necessária para a criação.
Era vivaz a força com que o poeta sentia tudo ao seu redor. Por ser a poesia e a música o seu universo, não podia preocupar-se com o corriqueiro da vida. Não podia ligar-se a convenções e conceitos, então, quando não se sentia mais atraído pela mulher com quem vivia e tornava-se pesada a “atmosfera humana” mudava, sofria, mas não se acomodava. Saia em busca de um novo amor, uma nova paixão, uma nova fonte de inspiração.

Casou-se pela segunda vez com Lila Maria Esquerdo Bôscoli. Viveu por cinco anos ao lado da nova musa e teve o reencontro com a poesia que andava meio esquecida. Vivia em busca do amor etérno mesmo sabendo que não iria encontrá-lo, o que, talvez, fôra a maior angústia do poeta.

Apaixonava-se e se fazia apaixonar com facilidade. Em 1958 casa-se com Maria Lúcia Proença e cria “Chega de saudade”, música considerada o marco inicial do movimento MPB, lançada no disco que traz a marca do poeta também no nome: “Canção do amor demais”.

Em 1959 é lançado o disco “Por toda a minha vida”, com composições de Vinícius e Toquinho, cantado por Lenita Bruno. Diferente do nome dado ao LP, os amores de Vinícius seguiam o lema “eternos em quanto dure”, então, no mesmo ano casa-se com Susana Bruno, filha de Lenita.

Em 1963 encontra sua nova esposa, Nelita Abreu Rocha. Ainda não sendo esta o seu amor eterno, em 1969 casa-se com Cristina Gurjão. No ano seguinte, já separado e numa tristeza solitária, conhece Gesse Gessy em um bar e casa-se com ela. Paixões eram o alimento do “eu poético e músico” de Vinícius de Moraes.

Apesar de viver rodeado de muitos amigos, era nas mulheres que Vinícius exorcizava a solidão que ele tanto temia. Em 1976 casa-se com Marta Rodrigues Santamaría e em 1978com Gilda Queirós Matoso com quem viveu até 1980, ano de sua morte.

Toda a obra de Vinícius é uma celebração da vida, da arte e de seus amores. Vinícius se entregava totalmente ao que lhe dava prazer e fugia com a mesma facilidade do que não mais lhe encantasse. Carlos Drummond de Andrade diz que “Vinícius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural”.

Vinícius, o poeta, o músico, os casamentos, a vida celebrada e vivida. Tudo de amor que nele existia foi dado e tudo que nele falava em amor foi dito e nenhum amor se fez infinito, mas eterno na obra que ainda dura.



Comentários

  1. É muito linda essa poesia, parece que resume o mote do poeta e diplomata "o amor eterno",que o manteve escravizado ficando subentendido não ser esse amor para os humanos a não ser para alguns escolhidos pelo amor essencial para serem seus modelos entre humanos estando O POETA entre esses escolhidos!

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  2. nossa quantos casamentoss!!!!!‘‘‘

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