Na introdução do livro “Poesia Não é Difícil”, Carlos Felipe Moisés diz que poesia não pode ser definida com consultas à manuais e enciclopédias nem por conceitos formulados por especialistas, pois ao contrario da mecânica celeste, campo escolhido por ele para a comparação, poesia não constitui um saber universal. Seus conceitos e definições dependem, além das circunstâncias culturais e históricas, da interpretação subjetiva das pessoas.
Aponta ainda, que o saber é diferente do conhecimento, pois este pode ser entendido como algo que está aquém das definições. Assim afirma que conhecemos poesia por viver cercado dela, sob as mais variadas formas. Mesmo que não tenhamos o hábito de folhear livros de poesia e não tenhamos um conceito definido sobre ela, possuimos o conhecimento empírico, ainda não traduzido ou sistematizado, mas vivenciado.
Poesia é aquilo que a gente fica sabendo quando lê poesia e para entender um poema o autor diz ser preciso deixar-se contaminar por ele, aceitar que as palavras para um poeta não têm um único sentido, mas vários e muitas vezes ambíguo. É necessário ainda, gostar de poesia e estar ciente do sentido lúdico, o sentido de jogo e brincadeira do lidar da poesia com a sua matéria prima, que são as palavras.
Ao titular seu livro "Poesia Não é Difícil", justifica o título pelo fato de muitas pessoas acharem que poesia é difícil e prosa é mais simples, mas desmistifica essa alegação concluindo que ambos possuem o mesmo grau de dificuldade. Ambos exigem do leitor uma capacidade de reflexão crítica, de observação e raciocínio dedutivo, requisitos básicos para se conhecer bem qualquer área, inclusive a literatura.
Fecha a introdução, concluindo que “para gostar de poesia é preciso lutar contra toda a sorte de preconceitos e é preciso também estar sempre disposto a enfrentar com humildade as surpresas e armadilhas que ela abriga, em suas formas enumeráveis”.
No segundo capítulo, o autor trata do assunto preferido dos poetas, o seu próprio Eu, e afirma que poesia é, de modo geral, uma forma de autoconhecimento. Todo o poema é uma espécie de viagem interior que o poeta empreende à procura de si mesmo, do verdadeiro Eu escondido por trás dos rótulos convencionais, o que ele aponta ser a tradição lírica, que se caracteriza pelo confissionalismo e pelo sentimentalismo.
Segue o capítulo fazendo um breve relato dos movimentos literários e apontando suas principais características, partindo do início da poesia em língua portuguesa que começou no século XII com o português Paio Soares de Taveiro. Citando o poeta, o autor demonstra dois traços fundamentais da poesia lírica: O exagero de linguagem (hipérbole) e a fixação no tema amoroso, geralmente o amor fracassado.
No século seguinte durante o Classicismo, que vai até meados do século XVII, segue o tema autoconhecimento, agora expresso pelos poetas seguindo a crença do homem como ser superior, senhor da ciência e da arte. Usando como exemplo o poeta Sá de Miranda, o autor mostra que o Classicismo fala de tristeza e sofrimento, mas com um certo orgulho por buscar a essência do seu ser, com sobriedade e equilíbrio, característica básicas do Classicismo, que prega o controle da emoção pela razão.
Depois, vem a revolução Romântica, onde o poeta perde o pudor e o autoconhecimento empreendido é de base emocional. Predominam no Romantismo o desespero, a aflição, a instabilidade e a sensação de desamparo, reforçando a imagem do poeta como seres excêntricos.
Na poesia Moderna o poeta se interessa, antes de tudo, pela sua condição de poeta, pois essa condição é o caminho para o autoconhecimento, encarado por ele como um mergulho no escuro. Aqui o poeta tem a sensação de múltiplas personalidades, definidas pelo autor na figura do poeta Fernando Pessoa e seus heterônimos.
No último capítulo estudado o autor fala de poemas cujo tema é a própria poesia, tendência natural do século XX que denuncia uma crise de identidade social do poeta e da própria poesia. O poeta se vê na contingência de justificar sua presença e valorizar a sua condição.
Á medida que o poeta se aprofunda na indagação sobre a atividade que exerce, afasta-se cada vez mais do gosto comum e da tradição. Na língua Portuguesa, segundo o autor, o poeta João Cabral de Melo Neto é o nome mais significativo dessa linha e Baudelaire teria sido o pioneiro na "procura" da poesia autêntica, sem subterfúgios; aspirando trazer a poesia para junto da realidade; uma poesia que nos ajude a ganhar consciência da vida real sem iludir com vidas paralelas.
Comentários
E eu ainda não permiti que a poesia me conquistasse. Ainda estou preso na prosa (risos).
ResponderExcluirAbraços líricos, do tipo Hai-Kai.