DISCUSSÃO DE TEXTO
Clifford Geertz
PARTE I
A explicação científica não
consiste na redução do complexo ao simples, consiste antes em na substituição
de uma explicação menos inteligível a outra mais inteligível, e, no caso do
estudo do homem, objeto da antropologia, em ordenar a complexidade, cuidando
para não se tornar simplista. A tentativa de esclarecer ou de reconstruir um
relato inteligente do que é o homem tem permeado todo o pensamento científico
sobre cultura, desde os tempos do Iluminismo.
A perspectiva iluminista do homem
era a de que ele constituía uma só peça com a natureza, em outras palavras, há
uma natureza humana regularmente organizada, invariante e simples. Existem leis
imutáveis e parte dessa imutabilidade às vezes é obscurecida pelas “armadilhas
da moda local”, mas ela é imutável. A
perspectiva iluminista é uma perspectiva uniforme do homem. Na
perspectiva antropológica contemporânea, temos algumas reconsiderações.
A noção de que os homens são
homens sob quaisquer disfarces e contra qualquer pano de fundo não foi
substituída por “outros costumes, outros animais”. A ideia de que “qualquer
coisa da qual a inteligibilidade, a verificabilidade ou a afirmação real sejam
limitadas a homens de um período, raça temperamento, tradição ou condição, não
contém (por si mesma) qualquer verdade ou valor, nem tem importância para um
homem razoável. A diversidade, as variedades entre os homens, crenças e
valores, aqui, é sem significado.
PARTE II
Concepção estratigráfica:
Nome sugerido pelo autor para designar as alternativas de localizar o
homem no conjunto de seus costumes que tomam o homem como constituídos por
níveis ou camadas (biológico (orgânico), psicológico, social e cultural), sendo
cada uma dessas camadas completas e irredutível em si mesma.
Consensus gentium (um consenso de toda a humanidade): uma das
noções mais recorrentes, a noção de que há algumas coisas sobre as quais todos
os homens concordam como corretas, reais, justas ou atrativas, e que de fato
essas coisas. Este pensamento tenta formar um “padrão cultural universal” ou
“tipos institucionais universais”, os “denominadores comuns da cultura”. Os
universais culturais são concebidos como respostas cristalizadas a realidade de
que não há uma generalização amplamente possível, são formas institucionalizadas
de chegar a termos com a resposta que se busca.
Para Clifford, não existem
generalizações que possam ser feitas sobre o homem como homem, além da que ele
é um animal muito variado. As generalizações não podem ser descobertas por uma
espécie de “pesquisa de opinião pública”. Os aspectos ditos culturas
universais, se analisados com profundidade, serão modelados pelas exigências
das sociedades a fim
de persistirem (família, filhos,
estudo, saúde, etc.).
O Consensus gentiun não pode produzir nem
universais nem ligações específicas entre os fenômenos cultural e não cultural
para explica-los, permanece a questão se tais universais devem ser tomados como
elementos centrais da definição de homem. Todavia, a noção de que a essência do
que significa ser humano é revelada mais claramente nesses aspectos da cultura
humana que são universais do que naqueles que são típicos deste ou daquele
povo, é um preconceito que não somos obrigados a compartilhar (p.31).
Porém, pode ser que nas
particularidades culturais dos povos sejam encontradas algumas das revelações
mais instrutivas sobre o que é “SER GENERICAMENTE HUMANO”.
PARTE III
Pelo caráter enormemente diverso do comportamento humano,
seria simplista entrar em particularidades culturais para entender O Homem. O ponto crítico não é se os fenômenos são
empiricamente comuns, mas se eles podem ser levados a revelar os processos
naturais duradouros subjacentes. Precisamos buscar relações sistemáticas entre
fenômenos diversos e substituir a concepção estratigráfica das relações entre
os vários aspectos da existência humana por uma concepção sintética que leve em
conta os fatores biológicos, psicológicos, sociológicos e culturais, tratados
como variáveis dentro dos sistemas unitários de análise.
Para uma imagem mais exata do Homem, Clifford sugere duas
ideias: a) cultura como conjunto de mecanismos de controle; b) a necessidade
deste controle para ordenar seus comportamentos.
a) A cultura como “mecanismo de
controle” inicia com o pressuposto de que o pensamento humano é tanto social
como público, pois ocorrem num tráfego de símbolos significantes (palavras, gestos,
desenhos, sons, objetos mecânicos ou naturais, qualquer coisa que esteja
afastada da realidade e seja usada para impor um significado à experiência.
Tais símbolos são dados, pois quando nascemos já os encontramos em uso na
comunidade e permanecem após a sua morte, com alguns acréscimos, subtrações e alterações
parciais das quais pode ou não participar.
b) A cultura - “mecanismo de controle” -
como necessidade. O homem precisa destas fontes simbólicas para encontrar
apoios no mundo. Se não dirigido por padrões culturais (sistemas organizados de
símbolos significantes) o comportamento do homem seria ingovernável, um simples
caos de atos sem sentido e de explosões emocionais, e sua experiência não teria
qualquer forma.
A cultura, a totalidade acumulada de tais padrões, portanto,
não é apenas um ornamento da existência humana, mas uma condição essencial para
ela – a principal base de sua especificidade. Não existe natureza humana
independente da cultura. Os homens sem cultura seriam monstruosidades
incontroláveis, com poucos instintos úteis, sem sentimentos reconhecíveis e
nenhum intelecto, somos incapazes de organizar nossa existência sem cultura. SEM
HOMEM NÃO HÁ CULTURA, MAS SEM CULTURA NÃO HOMEM.
PARTE IV
Quaisquer que sejam as abordagens para se entender O Homem em
relação à cultura, essas trazem em comum o fato de tentar construir uma imagem
do homem como um modelo, uma arquétipo. Mas, se queremos descobrir o homem, só
o podemos descobri-los naquilo que são: “e o que os homens são, acima de todas
as outras coisas, é variado”.
Para encerra e justificar o título, Clifford expõe acerca do
conceito de cultura e o impacto no conceito de homem:
Quando vista
como um conjunto de mecanismos simbólicos para controle do comportamento,
fontes de informações extrassomáticas, a cultura oferece o vínculo entre o que
os homens são intrinsecamente capazes de se tornar e o que eles realmente se
torna, um por um. Tornar-se humano é tornar-se individual, e nós nos tornamos
individuais sob a direção de padrões culturais, sistemas de significados
criados historicamente em termos dos quais damos forma, ordem, objetivo e
direção ás nossas vidas.
Para entender
Homem e Cultura, temos que descer aos detalhes, além das etiquetas esmagadoras,
além dos tipos metafísicos para apreender corretamente o caráter essencial não
apenas das várias culturas, mas também dos vários tipos de indivíduos dentro de
cada cultura, se é que desejamos encontrar a humanidade face a face.
REFERÊNCIA:
GEERTZ, Clifford. O impacto do conceito de cultura sobre o
conceito de homem. IN: A interpretação
da cultura. RJ: LTC, 2013. p. 25-39.
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