Enlevo - Cruz e Souza


Da doçura da Noite, da doçura
De um tenro coração que vem sorrindo,
Seus segredos recônditos abrindo
Pela primeira vez, a luz mais pura.

Da doçura celeste, da ternura
De um Bem consolador que vai fugindo
Pelos extremos do horizonte infindo,
Deixando-nos somente a Desventura.

Da doçura inocente, imaculada
De uma carícia virginal da Infância,
Nessa de rosas fresca madrugada.

Era assim tua cândida fragrância,
Arcanjo ideal de auréola delicada,
Visão consoladora da Distância...






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João da Cruz e Sousa nasceu em 24 de novembro de 1861, na cidade catarinense de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis) e ganhou uma bela homenagem pelas ruas da capital este ano (2019) ao lado do palácio que leva seu nome. 
Filho de ex-escravos,  sua educação foi patrocinada por uma família de aristocratas (antigos proprietários de seus pais) no Liceu Provincial de Santa Catarina.
Desde pequeno, tinha uma inclinação para as artes, língua e literatura. Em Santa Catarina trabalhou como escritor e diretor no jornal abolicionista “Tribuna Popular”.
Quando jovem, sofreu discriminação racial, posto que foi proibido de assumir o cargo de promotor público em Laguna - SC. 
Mais tarde mudou-se para o Rio de Janeiro. Na cidade  maravilhosa, ele foi colaborador do jornal "Folha Popular" e das revistas “Ilustrada” e “Novidades”. Ademais, trabalhou como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil.
Note que as publicações de Cruz e Souza para os jornais estavam, muitas vezes, pautadas no tema do racismo e do preconceito racial.
No Rio casou-se com Gavita Gonçalves em 1893, e com ela teve quatro filhos. Infelizmente todos morreram prematuramente de tuberculose.
Esse momento trágico de sua vida está refletido em algumas de suas obras, as quais estão pautadas nos temas da solidão, dor e sofrimento. Após o ocorrido, sua esposa que sofreu muito, começa a apresentar problemas mentais.
Cruz e Souza também foi acometido pela tuberculose. Assim, resolve mudar para Minas Gerais com o intuito de melhorar sua saúde.
Faleceu na cidade mineira de Curral Novo, em 19 de março de 1898 com 36 anos, vítima de tuberculose.

Curiosidade

Ele foi apelidado de “Dante Negro” em referência ao escritor humanista italiano Dante Alighieri.

Características das Obras

A obra de Cruz e Souza é marcada pela musicalidade, subjetivismo, individualismo, pessimismo, misticismo e espiritualidade.
Tal qual as obras de outros poetas simbolistas, seus escritos estão repletos de figuras de linguagem: metáfora, aliteração, sinestesia, etc.
Dentre os temas mais abordados pelo autor estão o amor, o sofrimento, a sensualidade, a morte, a religião, além de temas associados ao abolicionismo.
Curioso notar que em suas obras e escritos, podemos constatar sua obsessão e predileção pela cor branca.

Obras

Dentre suas obras mais destacadas estão:
  • Missal (1893)
  • Broquéis (1893)
  • Tropos e fantasias (1885)
  • Evocações (1898)
  • Faróis (1900)
  • Últimos Sonetos (190
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