Com isso não se quer reinvidicar que a linguagem seja condição exclusiva e suficiente da mediação, mas é sim condição necessária e imprescindível para se compreender todo e qualquer processo mediador. [...] As palavras são mais eternas do que os mármores e os metais, já dizia Shakespeare. Por isso, o que mudam são os suportes que se tornam mais sofisticados, mais reprodutíveis, mais multiplicadores, mas a linguagem não morre, permanece (p.208-209).
Lúcia Santaella já foi tema aqui no blog quando trouxemos as especificações das Cinco Gerações Tecnológicas delineadas pela autora em seu livro "Linguagens Líquidas na Era da Mobilidade", (Paulus, 2007), obra cujos nossos olhos ainda se voltam. Hoje, porém, a proposta é trazer, de forma 'esquemática', alguns outros conceitos que Santaella apresenta, também, no capítulo "Mediações tecnológicas e suas metáforas".
Na obra a qual nos dedicamos, Santaella propõe “trazer as linguagens para o primeiro plano da cena” de modo a “resgatá-las da negligência e quase-olvido a que têm sido relegadas” pelos principais teóricos do mundo contemporâneo. Segundo a constatação da autora, a linguagem, aquilo que constituímos e nos constitui como humanos, tem sido “a grande esquecida” dos analistas do tempo presente (Santaella, 2007, p. 24). Santaella, em outras palavras, busca evidenciar que, no universo digital, texto, imagem e som não são mais o que costumavam ser. Deslizam uns para os outros, sobrepõem-se, complementam-se, confraternizam, unem-se e separam-se, entrecruzam-se. Tornaram-se leves, perambulantes. Perderam a estabilidade que a força de gravidade dos suportes fixos lhes emprestavam. Viraram aparições, presenças fugidias que emergem e desaparecem ao toque delicado da ponta de nossos dedos em minúsculas teclas. (Fonte: pucsp). Bom, vamos a alguns conceitos outros apontados pela autora:
Cultura Híbrida: Santaella afirma que "nenhuma tecnologia da comunicação borra ou elimina as anteriores", "uma geração tecnológica não extingue as outras", juntam-se na composição de uma cultura híbrida (p.201), ou seja, a cultura que caracteriza o nosso tempo nasce das misturas de todas as formas de cultura anteriores. A partir do Jornal, diz Santaella, palavra, foto, diagramação passaram a conviver em sintaxes híbridas. O cinema logo pôs em movimento a fotografia, acompanhada da sonorização. A TV, em seguida, com características que lhes são próprias, trouxe esse avanço cinematográfico para dentro de nossas casas e, assim, a partir de tais processos, desabrocharam as "mentes híbridas" (p. 194). Para a autora "os processos cognitivos humanos podem ser observados na hibridização cada vez mais acentuadas dos meios de comunicação e das linguagens que lhes são próprias" (p.194).
Metáfora do Espelho: Gerada pelas tecnologias da imagem – da foto a TV -, trata da ideia do reflexo. As formas de representação (teatro, jornal, literatura, cinema), do século XIX até boa parte do século XX, estavam marcadas pela ideia do espelhamento: “A linguagem como espelho da realidade”. A metáfora do espelho, exemplifica Santaella, está por trás da teoria da ideologia e da ideia de verdade jornalística, essa pautada na convicção de que a verdade está nos fatos. A linguagem para estes que bebem na fonte da metáfora do espelho, são alimentadas pela convicção de que a linguagem é mais ou menos verdadeira quanto mais ou menos cumprir a função especular. Santaella conclui que as linguagens, "longe de funcionarem como reflexos da realidade, agregam-se a ela, constituem-se elas mesmas em partes da realidade, aumentando sua densidade e complexidade. Por isso mesmo, quanto mais as linguagens crescem, junto com elas crescem a complexidade do real" (p.213).
Metáfora do Universo Paralelo: Vivemos uma outra era, baseada nas propriedades das ondas eletromagnéticas. Santaella coloca que, com o ciberespaço, a metáfora passa a ser a do universo paralelos: "de um lado o mundo real; de outro, o mundo virtual"(p.214). O computador e a rede não podem mais ser vistos como mera extensão do nosso corpo, explica a autora, mas como um espaço, um ambiente com novas formas de pensar, de interagir e de viver nesse espaço que se amplia para além do mundo físico (p.215).
Metáfora dos Espaços Intersticiais: Os espaços intersticiais, conforme explica Santaella, surge da interseção do físico com o virtual e a metáfora dos espaços intersticiais representa essas mudanças mais recentes no mundo da comunicação e sua cultura. As novas práticas de acesso virtuais (tecnologias portáteis) estão construindo um espaço de mistura inextricável entre o virtual (o ciberespaço) e o físico, e o contexto urbano é onde ocorrem essas interseções. Mas, diz a autora, o espaço virtual não veio para substituir o físico, mas para adicionar funcionalidade a ele (p.218).
Realidade Aumentada: Parte dos espaços intersticiais que refere-se - ainda que não haja um consenso sobre o entendimento da RA- a qualquer ambiente que inclui elementos do mundo físico e de realidade virtual. Apresentam três traços básicos:
Outras Palavras: Obviamente, as metáforas utilizadas para descrever as mediações possibilitadas por cada Geração (lembrando, sempre, que a linguagem é a primeira responsável pela mediação entre o ser pensante e a realidade do que se lhe apresenta, seja seu entorno, um interlocutor ou o conteúdo veiculado por qualquer um dos meios citados) também tornaram-se mais complexas. Se os meios de comunicação da 1ª Geração podiam ser pensados a partir do espelho, metáfora que revela a percepção (ou a profissão de fé) de que os conteúdos refletiam a realidade social (e, de certo modo, eram confiáveis), o mesmo não ocorre com os meios da 2ª Geração. A TV, sobretudo, pensada como expressão máxima do "espetáculo" (conforme Debord), por embaraçar em sua programação fragmentada ficção e realidade (Chauí já havia chamado a atenção para o fato de que choramos com a morte dos personagens de novela e duvidamos de certas cenas exibidas pelo telejornalismo - torção inexorável de nossa percepção neste meio), serve à apresentação e representação de ideologias. Santaella também denota que a metáfora de "universo paralelo" inaugurada com o cyberspace está cada vez mais em desuso, superada pela metáfora do híbrido ou, como prefere, "intersticial". Se "universo paralelo" pressupõe separação entre Real e Virtual (como se fossem termos opostos - o que seria uma contradição, pois o virtual não corresponde ao que não é real), a metáfora "espaços intersticiais" busca dar conta das sobreposições e misturas possíveis entre ambos. (Fonte: Blog Cibercultura - Cíntia dal Bello)
Realidade Aumentada: Parte dos espaços intersticiais que refere-se - ainda que não haja um consenso sobre o entendimento da RA- a qualquer ambiente que inclui elementos do mundo físico e de realidade virtual. Apresentam três traços básicos:
a. Combinação do real com o virtual;
b. Interatividade em tempo real;
c. Registro em 3D.
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SOBRE O AUTOR: Lúcia Santaella, já apresentada aqui, é professora titular no programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Doutora em Teoria Literária pela PUC-SP e livre-docente em Ciências da Comunicação pela USP, é presidente honorária da Federação Latino-Americana de Semiótica e diretora do Cimid, Centro de Investigação em Mídias Digitais da PUC-SP. Também dirige o lado brasileiro do projeto de pesquisa Brasil-Alemanha (Capes/DAAD, 2000-2004) sobre Palavra e Imagem nas mídias. Seus interesses de pesquisa estão atualmente voltados para a Semiótica cognitiva e a Cibercultura. Organizou sete livros, e, de sua autoria, publicou outros vinte e três, entre os quais incluem-se "Matrizes da linguagem e pensamento - Sonora, visual, verbal" (Prêmio Jabuti 2002), "Culturas e artes do pós-humano - Da cultura das mídias à cibercultura" e "Corpo e comunicação - Sintoma da cultura". (Fonte: Livraria Cultura).
Arquivo Cultura de Travesseiro:
Que bacana #apareSer por aqui! Excelente post! Obrigada por citar o blog!
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