Durante centenas de anos, a Retórica foi a base de toda a formação
cultural humana. Seu ensino era ministrado em fases distintas (leituras
públicas; sermões de improviso; críticas dos poetas; sessões de debate) e
aprendida com interesse. Para Aristóteles, a Retórica era um rebento da
Dialética e da Política. Não era uma ciência, mas a arte de persuadir por meio da palavra falada.
Demóstenes foi o maior orador da Grécia
antiga. Na eloquência, contudo, não teve o mesmo sucesso obtido em seus
discursos jurídicos. Perdia-se em períodos longos e prolixos e teve contra si a
voz fraca, a elocução sem brilho e o fôlego curto. Mas não desistiu, e certo dia
perguntou a Sátiro por que ninguém lhe dava atenção, quando qualquer “camelô”
de rua era ouvido por multidões atentas. O ator pediu-lhe que recitasse qualquer
coisa. Depois que Demóstenes declamou, repetiu a passagem, interpretando-a: já
não parecia o mesmo período, e Demóstenes aprendeu quanta expressão e força a linguagem adquire da ação. Deste dia em
diante, passou a ensaiar a voz e os gestos. Estudou com determinação: para
fortalecer a voz, fazia longas caminhadas na praias e falava diante do mar.
Para aperfeiçoar a dicção, punha seixos na boca e, com pedrinhas dificultando a
fala, aprimorou a pronúncia das palavras. Demóstenes sempre foi considerado
homem de pouco gênio natural, devendo poderes e habilidades no falar ao
trabalho e diligência. Nunca se levantou para falar sobre um tema para o qual
não estivesse preparado. Achava que preparação cuidadosa do discurso
significava demonstração de respeito para com o público. Sempre dedicou
especial atenção ao tom e ao gesto.
Cícero era um jovem brilhante. Era capaz
de abarcar todas as ciências e não desdenhava de nenhuma espécie de estudo ou
saber. Possuía os mesmos defeitos de Demóstenes na pronúncia e no gesto.
Corrigiu-os com trágicos e comediantes e adquiriu nos discursos notável poder
de persuasão, embora raramente levantasse a voz. Era ferino e o uso excessivo
de réplicas assertivas deu a Cícero a reputação de malignidade. Era acusado de
elogiar-se com prodigalidade excessiva. Sua eloquência perdia a doçura e a
graça características, tornando-se enfadonha e fatigante.Considerava o melhor
aprendizado escreveu diversos volumes sobre Oratória e sua técnica, a qual
dividiu em cinco partes:
1° Descobrir
as ideias.
2° Dispor
ideias, dividindo-as e classificando-as pelo critério da importância de cada
uma.
3° Revestir
e embelezar as ideias com expressões conveniente.
4° Fixá-las
na memória.
5°
Recitá-las com dignidade e graça.
O discurso
devia ter uma sequência rígida:
1.
Antes de
tratar do assunto, cative o espírito dos ouvintes.
2.
Exponha a
questão.
3.
Indique o
ponto em discussão.
4.
Apresente as
provas em apoio à tese.
5.
Refute
objeções.
6.
Termine
ampliando e desenvolvendo tudo o que é favorável ao tema, e enfraquecendo e
demolindo tudo que favorece o adversário.
Cícero considerava o melhor aprendizado escrever o mais possível:
a pena é o melhor mestre da Oratória. Era da opinião de que o sucesso do
discurso depende da prática. Em suas “catilinárias”, até a duração as pausas,
as hesitações, os suspiros e as lágrimas eram cuidadosamente ensaiados.
A voz
A voz revela o estado de nossos pensamentos e sentimentos, muito
mais que as palavras. Uma boa voz retrata a personalidade que evolui,
ajustando-se, crescendo, firmando-se: “O homem convencido do que diz parece
transportar o pensamento em sua voz. No bom orador o pensamento se exterioriza,
adquire uma forma sonora, cria plasticidade vocal, por meio da qual são
conquistados os sentidos e a inteligência do ouvinte. A voz ideal seria aquela
em que se obtivesse, com o mínimo de esforço, um máximo de efeito estético.
Lembre-se que nossa voz, tal como ouvimos, é diferente do que
nossos interlocutores ouvem, pois estes a ouvem por via aérea, e nós ouvimos
por via óssea. Quando ouvimos nossa voz gravada (audiovisual, por exemplo)
podemos conhecer as qualidades e defeitos de nossa fala (voz).
Defeitos da voz
A maior
parte dos defeitos da voz deve-se maisa razões psicológicas doque físicas. Uma
voz excessivamente fraca pode originar-se de um excesso de timidez ou
autocrítica. Os defeitos mais comuns na fala são quatro:
1)
Voz fraca: Nada é mais desagradável para
quem ouve do que uma voz fraca, inaudível. Esse defeito apresenta-se sob dois
aspectos: a) voz realmente fraca, inaudível; b) voz sem extensão, perde o
volume ao final das frases. Para corrigir este defeitos, se não for uma caso
clínico, deve-se começar por adotar uma posição firme dos ombros e da cabeça.
Também é necessário aprender a respirar: inspirar profundamente e expirar
lentamente.
2)
Voz monótona: ocorre quando se negligencia a
mudança do volume e do tom da voz. A variação do volume, de acordo com a mudanças
do assunto, desperta maior interesse de quem ouve.
Exercícios
A
declamação e a leitura em voz alta são bom exercícios para corrigir a voz
monótona. Experimente ler com expressão estes versos de Olavo Bilac:
Ora
(direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o
senso! E eu vos direi, no entanto,
Que, para
ouvi-las, muita vez desperto
E abro as
janelas, pálido de espanto...
|
3)
Voz nasal: Ocorre quando se exala o ar
através do nariz e da boca ao mesmo tempo.
Exercícios
Um bom
exercício para a correção da voz nasal consiste na repetição de vogais longas
e ditongos:
UMA
--------UNHA ------UA
M--------N------EM
AMA---------MANHÃ-----
AA
NH ------NA------UN
EM ------
LENHA --------LE
OM--------FOME
------O
|
4)
Voz estridente: A estridência é, na maioria das
vezes, um hábito. Atentar ao volume da voz costuma corrigir este problema. Fale
em meio-tom.
Para falar melhor algumas qualidade precisam ser trabalhadas:
·
Ênfase: é a energia da fala e consiste
na colocação correta da sílaba tônica de uma palavra, na palavra certa em uma
frase.
·
Entonação: Entonação é a música da
linguagem. Entonar bem é falar no tom certo, como se cada palavra, cada sílaba
representassem uma nota musical.
·
Pronúncia: A pronuncia deve ser treinada
para não passar afetação na fala,evitar imitar padrões ou estereótipos e denotar
desconhecimento ou pobreza de vocabulário.
·
Ritmo: Muitas pessoas atropelam o
ritmo, falando com muita velocidade ou arrastado demais. Há um ritmo certo para
falar bem.
·
Confiança: Nada é possível sem confiança.
Acredite no que fala e para tanto fale somente sobre assuntos que conheça ou
domine. Informe-se!
·
Dicção: é a qualidade suprema da voz
falada e depende de muitos fatores, destacando a respiração (nunca respire no
meio da palavra e cuidado com barulhos da respiração.
·
Articulação: é a claridade e a nitidez que se
dá a palavra.
A pose e a movimentação
Pose é uma atitude estudada, indispensável para o bom orador. A
mais informal das atitudes é quase sempre uma pose cuidadosamente cultivada. A
pose deve alicerçar-se na confiança. Para adquiri-la lembre-se destas normas:
·
Fale sobre
um assunto com o qual esteja familiarizado, sabendo mais que a plateia se
possível).
·
Lembre-se de
que, em regra, os interlocutores desejam o sucesso do orador.
·
Só comece a
falar quando sentir que a atenção da plateia está com você.
·
Lembre-se, a
imobilidade pode aumentar a tensão interna.
A posição correta do orador para
falar em público é, por assim dizer:
·
Sentir os pés
firmemente no chão;
·
Avançar
levemente um dos joelhos;
·
Busto bem
posto;
·
Ombros pra
trás;
·
Cabeça
erguida, para permitir ampla ventilação dos pulmões;
·
Relaxar
todos os músculos do corpo, principalmente o maxilar. Evite a rigidez;
·
Abrir
levemente a boca, como se fosse pronunciar a letra A;
·
Olhar
claramente a plateia, evitando “falar para uma só pessoa”;
·
Contar
mentalmente até dez;
·
Evite
apoiar-se de todo em alguma coisa, ou se apoie vez que outra.
·
Evite se
balance compassadamente. Andar de uma lado para o outro ou balançar-se pode
causar sono no ouvinte.
Sobre a movimentação, a posição deve ser cômoda para o orador e
natural para o público. O orador fala com todo o corpo e um orador sem gestos é
obra de arte incompleta. Algumas informações podem auxiliar:
·
Não fique no
mesmo lugar (evite a posição samambaia);
·
Não passeie
sem parar;
·
Não fique
balançando-se (lembra mãe embalando filho = sono);
·
Não se
abaixe;
·
Evite mãos
no bolso;
·
Evite ponha
as mãos para trás;
·
Evite os
‘tiques” ou gestos repetidos;
·
Não brinque
com chaveiros, papeis, garrafas, copos, etc. (a menos que seja uma apresentação
circense);
·
Não abotoe e
desabotoe o paletó e evite tirar e colocar os óculos.
SEJA NATURAL!
SEJA BEM INFORMADO!
SEJA BREVE!
SEJA JUSTO!
SEJA EDUCADO!
Referência: PENTEADO, J.R. Whitaker. A técnica da comunicação humana. SP: Cengage Learning, 2012.
_______________________________________________________________
Comentários
Postar um comentário
PARTICIPE! COMENTE ESTE POST...