PÉRICLES PRADE - UM AUTOR PARA CHAMAR DE SEU

           

Péricles Prade é leitura obrigatória aos vestibulandos da UFSC (2020). Conhecido e renomado escritor local, nasceu em Rio dos Cedros (1942), à época distrito do município de Timbó, Santa Catarina, radicando-se em Florianópolis, sua ilha da magia até hoje. Filho de mãe professora e pai político, sua origem genealógica conhecida vai até o Império Austro-Húngaro. “Meus avós paternos, devido à guerra, saíram do sul da Áustria, rumo ao norte da Itália, fixando-se na região de Belluno. Portanto, sou brasileiro-ítalo-austríaco”.

Sua inclinação para a leitura, e a escrita, vem de berço. Seu pai, apesar de não ter curso superior, “era preparado. Lia, todos os dias, jornais e livros”. “Também minha mãe lia bastante. O fato de eles serem leitores acabou me encantando”. Inspirado desde a infância, Prade escreveu seu primeiro poema aos nove anos de idade, sua primeira prosa poética aos 15 e conto aos 17. Com nostálgico orgulho, o autor fala de suas influências mais remotas, os gibis e as narrativas das rádio novelas, auxiliando-nos na compreensão de seu mundo

A leitura predileta, em Timbó, na adolescência, eram os gibis. Trocava-os com o Lindolf Bell. Nós nos furtávamos reciprocamente.(Risos). Fascinavam-me as aventuras de Roy Rogers, Rocky Lane e O Cavaleiro Negro. Tudo isso também influenciou, de certa maneira, o futuro da minha obra literária ligada ao fantástico. Na época – você é bem mais jovem do que eu e obviamente não se lembra – às seis horas da tarde, na Rádio Nacional, passava a novela “Jerônimo, O Herói do Sertão”. Não havia televisão e as pessoas acompanhavam as novelas com o ouvido colado nos rádios. Creio que o título do meu primeiro livro de ficção, “Os Milagres do Cão Jerônimo”, foi inspirado naquele famoso herói do Sertão. Organizei um clube em sua homenagem. Enfim, fui influenciado pelas histórias em quadrinhos e pelas novelas de rádio, sem falar nos livros que lia em casa, geralmente pedidos pelo reembolso postal. 1

A bibliografia produzida por Péricles Prade é grandiosa em títulos – escreveu mais de setenta obras -, espaços e gêneros, dentre esses poesia, conto, romance, crítica de arte, literatura jurídica, ensaística e histórica. De difícil definição, sua escrita poética e de ficção desafia biógrafos, leitores e pesquisadores que o definem ora como autor do fantástico, do surreal, ora como do nonsense, mas, segundo o próprio autor - apesar de reconhecer suas influências nas leituras fantásticas da adolescência -, sua narrativa é cubista.

Em 1970, dá-se o lançamento de sua primeira obra de ficção em prosa, “Os milagres do cão Jerônimo”, livro em que, considerando o conjunto da obra do autor, os contos ainda têm uma estrutura que lembra a forma tradicional. A partir de “Alçapão para gigantes” (1980), Péricles Prade transcende os gêneros literários, as definições e conceitos da teoria literária e “tudo passa a ser, mais que poemas e contos, um universo de múltiplas dimensões dirigido por um feiticeiro com diabólica sensibilidade para a poesia como linguagem do oculto e do sagrado” (Silveira de Souza).

Figura marcante no cenário local e nacional, além de escritor versátil, Prade é tradutor, advogado bem-sucedido, professor universitário e ex vice-prefeito de Florianópolis (1998). Incansável, pertence ainda a inúmeras entidades culturais estrangeiras, nacionais e estaduais, destacando-se a Academia Brasileira de História, o Instituto Brasileiro de Filosofia, a Academia Catarinense de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e as Associações Internacional e Brasileira de Artes Plásticas.


Obras publicadas

Poesia

  • Este interior de serpentes alegres (1963)
  • A lâmina (1963)
  • Sereia e Castiçal (1964)
  • Nos limites do foro (1976)
  • Os faróis invisíveis (1980)
  • Guardião dos 7 sons (1987)
  • Jaula amorosa (1995)
  • Pequeno tratado poético das asas (1999)
  • Ciranda Andaluz (2003)
  • Além dos Símbolos (2003)
  • Em forma de Chama (2005)
  • Pantera em Movimento (2006)
  • Tríplice Viagem ao Interior da Bota (2007)
  • Labirintos (2009)
  • Os melhores poemas de Lindolf Bell (2009)
  • Sob a Faca Giratória (2010)

Ficção

  • Os milagres do Cão Jerônimo (1971)
  • Alçapão para gigantes (1980)
  • Ao Som do Realejo (2008)
  • Relatos de um Corvo Sedutor (2008)

História

  • O julgamento de Galileu Galilei (1992)
  • Paracelso & Giordano Bruno (1994)
  • Vesalius, Pare & Harvey (1994)

Crítica


  • Múltipla paisagem (1973)
  • História das Artes Plásticas em Santa Catarina (1973)
  • Espreita no Olimpo (1973)
  • Espaço, Natureza e Corpo na Arte da Renascença (1986)
  • Corpo e Paisagem: introdução à obra fotográfica de Lair Bernardoni (1992)
  • Do que se chama Cabeça ou Cabeças e outras incursões (2002)
  • O Desenho de Valdir Rocha (2004)
  • Bruxaria nos Desenhos de Franklin Cascaes (2009)
  • A Pintura de Sílvio Pleticos (2009)

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1Entrevista concedida ao Sarau Eletrônico e publicada em https://bu.furb.br/sarauEletronico/index.php?option=com_content&task=view&id=252&Itemid=1

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