Nascido, segundo pesquisadores, entre janeiro e fevereiro de 1524 em Portugal, na cidade de Lisboa, Luís Vaz de Camões foi um intelectual do Renascimento. Em torno de seu nome há uma lenda que diz que Camões deriva de uma ave – o camão - que na casa onde houver a menor suspeita de infidelidade conjugal, morre. Camões refere-se a tal lenda no seguinte verso:
"Experimentou-se algum'hora
Da ave, que chamam Camão,
Que da casa onde mora
Vê adúltera a senhora,
Morre de pura paixão".
Camões foi uma personalidade polêmica. Exercia certo encanto sobre as mulheres da corte Portuguesa, que, esquecidas de sua pobreza,o adimiravam pelo talento e chamavam-lhe “Sereia do Paço” ou “Cisne do Tejo”; mas seu caráter sedutor conquistou também algumas antipatias na corte.
Homem de muitos amores, Camões experimentou vários dissabores. Foi preso, exilado, e, voluntário no exército Português, combateu em várias expedições. Em 1550, no norte da África, num encontro com os mouros, foi ferido e perdeu o olho direito. Passou quatorze anos fora de Portugal, morando na índia e na china.
Em um naufrágio no rio Mécom, a custo, o “cavaleiro poeta” salvou sua vida e parte dos manuscritos de Os Lusíadas. No canto X, da obra, há uma alusão do poeta ao episódio:
“Esta receberá, plácido e brando,
No seu regaço ao Cantos, que molhados
Vêm do naufrágio triste e miserando
Dos procelosos ba[i]xos escapados”
Neste naufrágio, Camões perde sua “Dinamene”, a jovem oriental por quem o poeta estava apaixonado. A ela dedica-lhe o seu mais famoso soneto “Alma minha gentil que te partiste”. De volta a Lisboa, em 1570, roubam-lhe os manuscritos de Parnaso, mais uma decepção para o poeta. Segundo historiadores, Camões viveu seus últimos anos de esmolas, morando na periferia de Lisboa. Morreu em 10 de julho de 1580, quando Portugal passava para o domínio castelhano e Camões, patriota, antes de morrer disse:
...enfim acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado a minha pátria que não só me contentei de morrer nela, mas com ela”.
1.Soneto
Alma minha gentil, que te partiste
Al/ma/ mi/nha/ gen/TIL,/ que/ te/ par/TIS/te [A]
Tão/ ce/do/ des/ta VI/da,/ des/con/TEN/te, [B]
Re/pou/sa/ lá/ no/ CÈU/ e/ter/na/MEN/te [B]
E/ vi/va/ eu cá/ na /TE/rra/ sem/pre/ TRIS/te. [A]
Se lá no assento eTÉreo, onde suBISte, [A]
Memória desta VIda se conSENte, [B]
Não te esqueças daQUEle amor arDENte [B]
Que já nos olhos MEUS tão puro VISte. [A]
E/ se /vi/res/ que/ PO/de/ me/re/CER/-te [C]
Al/gu/ma/ cou/sa a /DOR/ que/ me/ fi/COU [D]
Da/ má/goa,/ sem/ re/MÉ/dio,/ de/ per/DER/-te, [C]
Roga a Deus, que teus Anos encurTOU, [D]
Que tão cedo de CÁ me leve a VER-te, [C]
Quão cedo de meus Olhos te leVOU. [D]
No poema, o poeta Camões volta-se à jovem amada que acaba de falecer. Esse soneto, embora nele não esteja explicito, é dedicado à jovem ocidental Dinamene, que morreu no naufrágio acima citado. A repetição de “tão cedo” / “tão cedo” / “quão cedo”, unifica o poema em torno da idéia central de que a amada partiu muito cedo, de maneira inesperada, e a súplica dirige-se para a mesma, que, se acaso a dor do poeta poder lhe fornecer alguma dádiva no “acento etéreo”, que esta seja a ida dele ao seu encontro no “céu”.
1.1 Analise do Soneto
Versos: regulares, composto de dois quartetos e dois tercetos (forma clássica dos sonetos), formando uma unidade de 14 versos decassílabos (os sonetos podem ser decassílabos ou alexandrinos, mas, a forma camoniana, é assim denominada por ser decassílabo).
Rima: externa, consoante, graves nas rimas A/ B/C e agudas nas rimas D; seguem o esquema ABBA ABBA CDC DCD sendo as rimas “A” interpoladas e as rimas “B” emparelhadas - nas duas primeiras estrofes (quartetos); e as rimas “C” e “D” Alternadas- nas duas últimas estrofes (tercetos).
Critério Gramatical: as rimas “A” e “B” são ricas (diferente classe gramatical) e as rimas “C” e “D” são pobres (mesma classe gramatical).
Critério Fônico: as rimas são consideradas pobres (a rima só se identifica a partir da vogal tônica).
Aliteração: aparece na repetição da consoante “T”, correspondendo ao que o título anuncia – partis-te, levando a sonoridade dessa palavra-chave para todas as estrofes do poema.
Assonância: aparece na repetição da vogal “E”, “I”, “O” e “U”, reforçando a musicalidade e ritmo do soneto.
Os versos decassílabos do soneto de Camões são heróicos, pois possuem E.R. 10 (6-10).
2.Poesia Épica
Os Lusíadas
Canto I / estrofe 105
O/ Re/ca/do /que/ TRA/zem /é/ de a/MI/gos, [A]
Mas/ de/ba[i]/xo o /ve/NE/no/ vem/ co/BER/to, [B]
Que/ pen/sa/men/tos/ E/ram/ de i/ni/MI/gos, [A]
Se/gun/do/ foi/ o en/GA/no/ des/co/BER/to. [B]
Oh! /Gran/des/ e/ gra/VÍ/ssi/mos/ pe/RI/gos, [A]
Oh!/ Ca/mi/nho/ de/ VI/da/ nun/ca /CER/to, [B]
Que a/on/de a /gen/te /PÕE/ sua/ es/pe/RAN/ça [C]
Te/nha a/ vi/da/ tão/ POU/ca/ se/gu/RAN/ça! [C]
Canto I / estrofe 106
No/mar/ tan/ta/ tor/MEN/ta /e tan/to/ DA/no,
Tan/tas/ ve/zes/ a /MOR/te a/per/ce/BI/da;
Na/ te/rra/ tan/ta/ GUE/rra,/ tan/to en/GA/no,
Tan/ta/ ne/ce/ssi/DA/de a/vo/rre/CI/da!
On/de/ po/de a/co/LHER/-se um/ fra/co hu/MA/no,
On/de/ te/rá/ se/GU/ra a/ cur/ta/ VI/da,
Que/ não/ se/ ar/me e/se in/dig/ ne o/ Céu/ se/RE/no
Con/tra um /bi/cho/ da/ TE/rra/ tão/ pe/QUE/no?
Na estrofe 105, Camões faz alusão à traição sofrida por Vasco da Gama pelos mouros que mostraram-se hospitaleiros recebendo o navegador em Moçambique. Reflete sobre a traição dos “amigos” e a insegurança da vida e seus mistérios.
Na estrofe 106, que encerra o I canto, o poeta faz uma reflexão sobre as dificuldades enfrentadas na vida e a pequenez e fragilidade do homem.
"Os Lusíadas" é uma poesia épica, publicada em 1572. Compreende dez cantos em estrofes de oito decassílabos e totalizam 8.816 versos.
Tem um motivo imediato - a viagem de Vasco da Gama à procura do caminho para às Índias pelo Ocidente – e um motivo geral, o da história do reino Português, de suas origens à época do poeta.
Única poesia épica portuguesa existente, "Os Lusíadas" pode ser considerada uma epopéia, segundo o Crítico Antônio José Saraiva, que conceitua epopéia como narrativas que relatam ou registram assuntos históricos.
2.1 Analise Poesia Épica
Versos: regulares estrofes de oito versos chamados de oitava - própria de composições épicas. Decassílabos heróicos, com
E.R 10 (6-10).
Rimas: externas, consoantes, graves na totalidade e segue o esquema ABABABCC – sendo as rimas A/B cruzadas e as rimas C emparelhadas.
Critério Gramatical: as rimas são consideradas pobres (mesma classe gramatical).
Critério Fônico: as rimas “A” e “B” dos quatro primeiros versos e as rimas “C”, do canto 105 são consideradas ricas (a rima se identifica antes da vogal tônica). No restante são rimas pobres ( se identificam pela vogal tônica)
Aliteração: aparece na repetição da consoante “T”, de terra e M de mar.
Assonância: aparece na repetição da vogal “E”, reforçando a musicalidade e ritmo do soneto.
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