O Colorido Muro Azul de Céu

por Angela Francisca
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Gabriel acordou doente um certo dia.
Sua garganta arranhava quando engolia
e sua testa de tão quente, ardia.
Então, não pode descer para brincar
e sua mãe, para o ardente filho cuidar,
não saiu nem para trabalhar.


Gabriel, chateado, aquecido e indisposto,
se debruçou na janela do andar em que morava.
Olhava o muro da casa da frente com desgosto
sabia que lá, na casa que só o muro guardava,
uma senhora idosa e solitária estava.



O muro só era tristonho,
como a vizinha que na tal casa morava,
como o dia que nublado estava,
como sua garganta que arranhava.

Todo cinza, sem nenhuma cor para alegrar,
o muro ainda era cheio de crespidão,
como as marcas de tristeza e desolação
impressas no que ninguém quer mais cuidar.

Quanto mais o muro triste Gabriel olhava,
mais chateado e doloroso ele ficava.

A mãe ao passar pelo menino convalescente
sentiu a dor que só as mães e os anjos sentem
quando vêem as suas crianças doentes.
Com muito amor e compaixão,
lhe deu um beijo de proteção
acompanhado por palavras de afeição:

- Logo, logo você vai sarar
seu anjo da guarda vai lhe proteger
e juntos vamos fazer você melhorar
para poder descer e de novo brincar.

Gabriel fixado e piedoso mal se mexeu,
mas aquele beijo de mãe anjo lhe aqueceu.
E o muro triste que continuava a fitar,
De repente começou a mudar;

Ficou tudo azul! Bonito igual ao céu, ardente,
azul claro de febril verão contente.
Deslumbrado, com os olhos a brilhar,
mais e mais o muro azul, Gabriel ficou a reparar.

Desavisada, uma estrela dourada surgiu.
Sozinha e inquieta, saltitando em suas pontas
brincando e aprontando no imenso azul vazio
daquele inspirado muro de céu anil.

Graciosa, olhou para o menino, sorriu, piscou
e outras incontidas estrelas douradas chamou.
Uma chuva cadente luminosa de graças,
caídas do céu com nuvens, se formou,
mas como chuva não caiam no chão,
iam se encaixando no muro que azulou,
formando uma grande e animada constelação.

Admirado, Gabriel ainda parado percebeu
que em outro lado do muro, que as graças recebeu,
de um miudinho pontinho argentado,
uma lua, cheia e redonda de prata, começou a se formar.
Lindo ficou o céu de muro com a lua pomposa a enfeitar.
Inesperadamente o sol veio todo animado e alaranjado
querendo fazer parte do desenho.
Ele achou estranho e disse com desdenho:





- Não pode! Lua é da noite e sol é do dia;
e a lua chegou primeiro, isso é covardia!






Mas o sol estava tão irradiante
feliz com tamanha beleza, contagiante,
que logo, sobre as cadentes estrelas douradas
e a opulenta lua prateada,
se posicionou, companheiro fiel
da sua turma de muro azul de céu.

- Tudo bem! Ficou lindo
e depois um muro tão sofrido,
agora tem todo o céu para lhe animar.
E quem vai se atrever a brigar
dizendo que o sol rei não pode participar?

Assim disse Gabriel, concordando com a lua,
as estrelas e o sol, todos juntos no mesmo lugar,
no mesmo muro azul de céu a brilhar.

Respirou fundo e ia chamar
a mãe para também contemplar,
quando outra forma começou a se movimentar.

Uma árvore risonha, cantando e dançando,
de tronco marrom estava, no muro, se criando
e folhas verdes, encantadas iam brotando.
Um galho como um abraço surgiu.
Um balanço vermelho de cordas brancas viu
pendurado no braço de árvore, que feliz balançava,
provocando o vento que soprava e às folhas dela ondulava.

Gabriel se sentiu ali brincando, voando para lá e para cá,
no balanço do braço amigo
de árvore do céu azul de muro colorido ,
feliz a flutuar.

Quando chamou a mãe para ver a transformação,
todos os desenhos do muro desapareceram.
Tão misterioso e mágico como a aparição,
foi também a surpreendente extinção.
Parou e viu que o muro cinza triste tinha voltado.
Mas agora não ficou chateado
pois sabia o que tinha apreciado
e o quanto a ilusão colorida do céu de muro azul o tinha melhorado.

No outro dia Gabriel acordou super disposto e alegre,
tinha se curado da garganta e da febre.
Desceu para brincar muito saudoso e entusiasmado,
Contou aos amigos a magia por seus olhos deslumbrado,
O colorido muro de céu azul que para ele apareceu,
e então, em suas palavras ele entendeu
o que muito adulto ainda não compreendeu.

Tinha recebido um bem, não sabia bem de quem,
de sua mãe ou de seu anjo que lhe cuidaram tão bem.
Mas sabia o que aquilo queria dizer,
um bem também precisava fazer
para uma corrente do bem formar,
com um a outro uma alegria querendo dar.

Pediu licença para a senhora que solitária morava
na casa que o muro só guardava,
e com suas temperas, tintas, aquarelas e pincéis
na companhia de seus amigos fiéis,pintaram o muro exatamente
como Gabriel tinha em mente.


As crianças se divertiram e a senhora que acompanhada estava,
ficou muito mais bonita e animada.




E enquanto ela ajudava ao azul muro colorido de céu pintar,
já pensava no bem,
que também queria fazer para alguém,
para não quebrar
a bendita corrente que o menino Gabriel viera a inventar.

FIM




Ao meu amado filho Lucca.
Angela Francisca


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