Cigano Destino

escrito por Angela Mendez



Naquela manhã o sol nascera vermelho, a chuva só chegaria à tarde. No intervalo entre uma e outra foi que sua vida mudou dramaticamente. Acordara com ares de festa, toda prosa, pronta para mais um dia de trabalho e dedicação. Já a caminho de seu escritório encontrou uma cigana que se ofereceu para desvendar-lhe a sorte. Não era dada a crendices, mas permitiu à mulher, de mistérios e origem envolventes, destramar o seu destino.

Sem muita preocupação com que ouvira, lamentando somente a perda de tempo, entrou na sala e como de costume, compenetrou – se em seus afazeres. O sol ainda brilhava quando saíra para almoçar. Sozinha em uma mesa de restaurante, soaram-lhe as palavras da cigana: “Ainda hoje, o sol se apagará e antes da água purificar a terra seu destino se cumprirá”. Que destino seria esse que a cigana lhe prometera o cumprimento?

Ao sair do restaurante, ainda, pensara na morena cigana, saia longa e colorida, enormes brincos redondos e dedos ocupados de anéis. Começara a lhe perturbar a tal previsão da mulher itinerante. Inquietou-se e, com a cabeça pesada de carregar em pensamentos aquela mulher, atravessou a rua sem se preocupar com a movimentada e asfaltada avenida e seu sinal aberto para os apressados motoristas dos rios negros e inertes.

Já no chão viu que uma enorme nuvem cobrira o sol e o céu. Logo observou os mais estranhos sapatos que estavam ao alcance de seus olhos, rodeando seu corpo estendido. Não entendia a que estava acontecendo, será que morrerá?

A água começou a molhar-lhe o rosto, as pernas doíam e o número de sapatos diminuíra. Sentia dor; sentia os pingos da chuva pousando em seu corpo. Não estava morta. A chuva, gotas d'água purificando a terra, era o elemento final para coroar a sua sorte cigana. Enfim entendera a maldita profecia que lhe fora oferecida.

Acordara em um quarto estranho,com mobília pouca, paredes pintadas de uma suave cor lilás e ar esterelizado. A cama não lhe era familiar. “Onde estarei agora” - pensou. Lembrou da rua, da cigana, o carro, o chão, a cigana... Fora atropelada. Eis que enfim se revela a profecia anunciada. - Era este o destino que escondia às linha de minha mão? Que adivinhação fajuta. Minha vida não mudou simplesmente estou acamada.

Ouve barulho no quarto e assustada percebe o enfermeiro que viera lhe medicar. Ao atentar os olhos nele reconheceu o amor de infância. Era Paulo, seu primeiro amor- amigo. Ambos se olharam e, tal crianças que um dia foram, começaram a rir e conversar sobre os anos e a vida que lhes afastara.

A cigana lera o seu destino. De forma dramática sua vida mudara. Casada com Paulo, caminha sob rodas, consulta mensalmente a tal cigana e nunca mais atravessou a rua sem olhar para os lados.

Angela Mendez - 2007.



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