Benveniste: A Natureza dos Pronomes



Pronomes Pessoais: A defenição comum de pronome pessoal como contendo os três elementos - EU/TU/ELE, abole a noção de pessoa, o que é faltante no ELE. Os pronomes não constituem uma classe unitária, são de dupla natureza segundo o modo de linguagem dos quais são os signos: Uns pertencem a sintaxe da língua outros são característicos das instâncias do discurso. Para Benveniste, assim como para Bakhtin, a instância do discurso, ou o enunciado, são únicos.

EU: O enunciado que contém EU pertence ao nível pragmático, incluindo aquele que o emprega através dos signos. Só pode ser identificado no discurso que o contém, pois não tem valor a não ser na instância de discurso na qual é produzido.

Instâncias de Discurso: São os atos discretos e cada vez únicos pelos quais a língua é atualizada em palavra por um locutor. Quando o indivíduo se apropria da linguagem, essa se torna  instâncias de discurso, caracterizada por um sistema de referências internas cuja chave é EU e que constitui o indivíduo pela construção linguística particular de que ele se serve quando se enuncia como locutor. Assim, os indicadores EU/TU não podem existir como signos virtuais, não existem a não ser na medida em que são utilizados na instância do discurso, em que marcam para cada uma das pessoas suas próprias instâncias o processo de apropriação pelo locutor.

Benveniste postula a existência de instâncias de discurso e que cada uma delas tem o seu próprio centro de referência interno. O autor indentifica um conjunto de termos linguísticos produzinos na e pela enunciação que seriam responsáveis pela identificação dessas instâncias do discurso:

1) os índices de pessoa (pronomes pessoais);
2) os índices de ostenção (pronomes demonstrativos);
3) os tempos verbais (o presente linguístico e suas decorrências).

De acordo com Benveniste, esses elementos constituem os recursos linguísticos cambiáveis no processo de interlocuções, possibilitando, em situações distintas, a apropriação do discurso por aquele que, no momento, assume a posição de locutor. São recursos linguísticos que indicam a construção de instâncias enunciativas. (fonte: http://www.filologia.org.br/anais/anais%20III%20CNLF%2017.html).

Organização Referencial dos Signos Linguísticos: O emprego do EU não constitui uma classe de referência, pois não há um único ou específico objeto. Cada EU tem sua referência própria e corresponde cada vez a um ser único. A forma EU só tem existência linguística no ato de palavras que profere. Há nesse processo uma dupla instância conjugada:
                                                              EU como referente
                                                             EU como referido

Na alocução obtem-se uma definição simétrica para TU como o indivíduo alocutado no discurso. Assim, a referência no discurso é, então, o traço que une EU/TU a uma série de indicadores pertencentes a diferentes classes: pronomes, advérbios e locuções adverbiais. Nesses indicadores está implicita a referência do sujeito que fala, atestando a subjetividade da linguagem. e a intersubjetividade. Não posso colocar-me como sujeito fora da língua, fora do discurso. Quando anuncio que  "Eu sou", eu me coloco como pessoa.


A Importância da Função da Referência na Enunciação: Essa se comparará à natureza do problema que servem para resolver, e que não é senão o da comunicação intersubjetiva. A linguagem resolveu esse problema criando um conjunto de signos "vazios", não referenciais com relação à realidade e que se tornam "plenos" assim que um locutor os assume em cada instância do seu discurso.

Se cada indivíduo para exprimir sua subjetividade irredutível dispusesse de um indicativo distinto, haveria praticamente tantas línguas quanto in´divíduos e a comunicação seria impossível. A língua previne esse perigo instituindo um signo único, mas móvel - EU - que pode ser assumido por um locutor. (p. 281).

O seu papel consiste, então, em fornecer o instrumento de uma conversação. É identificando-se como pessoa única, pronunciando EU que cada um dos locutores se propõe alternadamente como sujeito. "A polaridade das pessoas é  na linguagem a condição fundamental". Mas não há simetrias: Ego tem posição de trancendência sobre o TU. Entretanto "nenhum dos dois termos se concebe sem o outro".


Terceira Pessoa: Representa o membro não marcado da correlação de pessoa. É uma não-pessoa, suas formas (pronomes 3° pessoa - ELE - isso, etc) só servem na qualidade de substitutivos abreviativos.

Exemplo:     Pedro está doente. Ele está com febre.

Substitui ou reveza um segmento do enunciado e até de um enunciado inteiro, por um substitutivo mais maleável. Não se prende somente aos pronomes.

Exemplo:    Esta criança escreve melhor agora do que o fazia ano passado.

É uma função de representação sintática. Algumas propriedades são distintas da 3° pessoa:

1. Pode fazer referência a objetos;
2. Não é flexiva da instância do discurso;
3. Número grande de variantes pronominais ou demosntrativos;
4. Não compatível com o paradigma dos referencias como aqui, agora etc.

Não podemos, deixar de citar, matéria já explorada aqui, que a terceira pessoa apresenta uma forma de feminino, diferente da primeira e segunda pessoa, e de plural, apresentando uma pluralização de pessoas, como a exemplo do ‘nós’ que apresenta três objetos:
1. Nós Inclusivo: quando ao ‘eu’ se acrescenta um ‘tu’ (singular ou plural)
2. Nós Exclusivo: quando ao ‘eu’ juntam-se ‘ele’
3. Nós Misto: quando ‘eu ‘ junta-se a ‘tu’ e ‘ele’




Arquivo Cultura de Travesseiro

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