Curso de Linguística Geral

O estruturalismo de Saussure, podemos dizer, assume uma perspectiva dicotômica, pois ao definir o objeto de estudo da linguística, enquanto ciência, o teórico deparou-se com algumas bifurcações na delimitação da matéria. A primeira diz respeito à dicotomia língua/fala e a segunda à diacronia/sincronia.

Da primeira, Saussure argumenta que para se realizar um estudo da linguística, enquanto área da ciência, a língua deve ser privilegiada, deixando a fala para um estudo posterior, apartado. Surgem, então, alguns conceitos saussurianos, tais como linguagem, língua, fala, signo, significado e significante:

                                      FALA

LINGUAGEM =                +                                          SIGNIFICADO

                                      LÍNGUA =              SIGNO =             +

                                                                                       SIGNIFICANTE

Na segunda bifurcação, nos deparamos com a opção pelo estudo diacrônico ou sincrônico da língua (já que da primeira questão a língua foi a privilegiada), optando Saussure pelo estudo sincrônico, definido que a diacronia está mais associada a fala. Da sincronia surge os conceitos de sincronia sintagmática e sincronia paradigmática.

                                                                              SINTAGMA

LINGUA =                      ESTUDO =
                                        SINCRÔNICO         
                                                                             PARADIGMA

Acompanhando o raciocínio de Saussure, veremos as especificidades de cada elemento e os argumentos que o linguista apresenta para justificar as suas opções. As dicotomias de Saussure mais fecundas, podemos dizer, constituem-se nessas apresentadas: FALA/LÍNGUA - DIACRONIA/SINCRONIA.


 LINGUAGEM                                                                                      
Para Saussure a linguagem tem um lado individual e um lado social (p. 16), é um todo multiforme, pois implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução, é um aglomerado confuso de coisas heteróclitas, impossível, então, de se configurar um sistema. A linguagem, então, podemos inferir, é o conjunto da língua e da fala, uma vez que sua característica multiforme reúne as qualidades de ambas. Na visão de Saussure, a linguagem não serve como objeto de estudo da ciência linguística, pois além de não poder ser sistematizada, tendo em vista seu caráter multíplice, a linguagem poderia, ainda, ser analisada por diferentes perspectivas - um verdadeiro cavaleiro de diferentes domínios - pois, vista como um todo, pode ser reivindicada, enquanto matéria de estudo, por várias ciências outras, como a psicologia, filologia etc.
A língua e a fala são, então, aspectos dicotômicos da linguagem e para  construir os princípios da ciência linguística, Saussure acreditou ser necessário definir um objeto único e autônomo para análise, optar por uma visão, uma perspectiva, a fim de configurar um sistema que fosse objeto específico da linguística. A língua foi o foco de estudo de Saussure, pois a linguagem, como vimos, não se prestava a análise: era ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, além de pertencer ao domínio individual.

FALA                                                                                                   
Como vimos, a linguagem, segundo Saussure, é formada por dois aspectos: a fala e a língua. Uma vez que cada qual tem características diversas, essas acabam por configurar o caráter de dualidade à linguagem que a torna impossível para o estudo que pretende Saussure. A fala é a utilização da língua, vem antes da língua e a faz evoluir. Por seu caráter individual, momentâneo e heterogêneo torna-se assistemática, não servindo, ainda, como objeto de estudo da ciência que Saussure busca estipular. A fala, ao contrário da língua, por se constituir de atos individuais, torna-se múltipla, imprevisível, irredutível a uma pauta sistemática. Os atos linguísticos individuais são ilimitados, não formam um sistema. Assim, a língua é privilegiada por Saussure, que diz que para se solucionar  todas essas dificuldades dicotômicas é necessário colocar-se primeiramente no terreno da língua e tomá-la como norma de todas as outras ações da língua. De fato, entre tantas dualidades, somente a língua parece suscetível duma definição autônoma e fornece um ponto de apoio satisfatório para o espírito (p.17). Vejamos algumas características apontadas por Saussure que diferenciam a fala da língua:






LÍNGUA                                                                        
Língua é uma parte determinada da linguagem, mas ao contrário desta, constitui um todo em si e um princípio de classificação, desde que lhe demos o primeiro lugar entre os fatos da linguagem. A língua constitui algo adquirido e convencional, ao passo que a linguagem repousa numa faculdade que nos é dada pela natureza. Do exame do Curso, depreendemos três concepções para língua: acervo linguístico, instituição social e realidade sistemática e funcional.

A língua, como acervo linguístico, é o conjunto dos hábitos linguísticos que permitem a uma pessoa compreender e fazer-se compreender (p. 92). A língua é uma soma de sinais depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos (p. 27).  Na condição de acervo, a língua guarda consigo toda a experiência histórica acumulada por um povo durante a sua existência. Disso nos dá testemunho o latim, símbolo permanente da cultura e das instituições romanas. Também o português, nos seus oito séculos de existência, acumulou um rico e notável acervo linguístico e literário.

Como instituição social, a língua não está completa em nenhum [indivíduo], e só na massa ela existe de modo completo (p. 21), por isso, ela é, simultâneamente, realidade psíquica e instituição social. Para Saussure, a língua é, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos (p. 17); é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude de uma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade (p. 22).

A visão da língua como realidade sistemática e funcional é o conteúdo mais importante da concepção saussuriana. Para o linguista, a língua é, antes de tudo, um sistema de signos distintos correspondentes a ideias distintas (p. 18); é um código, um sistema onde, de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica (p. 23). Saussure vê a língua como um objeto de “natureza homogênea” (p. 23) e que, portanto, se enquadra perfeitamente na sua definição basilar: a língua é um sistema de signos que exprimem ideias (p. 24).

Para Saussure, ao outorgar à ciência da língua seu verdadeiro lugar no conjunto do estudo da linguagem, situamos ao mesmo tempo toda a linguística (p.26). E segue afirmando que todos os outros elementos da linguagem, que constituem a fala, vêm por si mesmos subordinar-se a esta primeira ciência. Por isso, o estudo da linguagem é dividido, para Saussure, em duas partes: a língua e a fala (linguística da língua e linguística da fala, capitulo IV), cumpre escolher entre os dois caminhos impossíveis de trilhar ao mesmo tempo; devem ser seguidos separadamente (p.28).
SIGNO =  SIGNIFICADO + SIGNIFICANTE                                  
Para Saussure a língua é representada por signos linguísticos. Segundo o linguista, o signo linguístico é  uma unidade psicológica de duas faces: uma imagem acústica e um conceito. A imagem acústica seria correspondente à forma verbal arquivada na memória, o que mais comumente se concebia como uma unidade da língua. Seria a parte mais concreta do signo por sua natureza sensorial, mais próxima dos sentidos. O conceito seria o significado do signo de um modo mais abstrato e, em certo sentido, mais próximo da referência. Para tornar o conceito de signo linguístico mais técnico, Saussure concebeu dois termos correspondentes a suas facetas:

 IGNIFICANTE = imagem acústica

SIGNIFICADO = conceito

Para solidificar este conceito de signo, formulou dois princípios: o da arbitrariedade e o da linearidade do significante. Significado e significante, segundo o primeiro princípio, se relacionariam de forma arbitrária. Ou seja, não haveria uma relação motivacional entre significado e significante. Não haveria, portanto, nenhuma relação natural entre a ideia de “mar” (o significado), por exemplo, como ele se constitui na realidade, e a sequência de sons m-a-r (o significante). O signo, dessa forma, depende da convencionalização, o que se dá como processo social, não estando, neste caso, ao alcance do indivíduo o poder de o estabelecer ou alterá-lo. O segundo princípio era o de que o significante, de uma natureza auditiva, ocorre no tempo numa ordem linear.

Dentro dessa concepção é bastante aceitável a correlação entre a imagem acústica de uma unidade sonora da língua, o fone, e sua contraparte significativa, os traços distintivos, formando, assim, o fonema. O mesmo vale para as unidades morfossintáticas, isto porque, até o nível da frase, a correlação é sempre de um para um, em se tratando de significado e significante, e a variação de uso é muito pequena. Com relação ao gênero, entretanto, é difícil se conceber que a “conformação característica” relacionada a uma “utilidade social” possam ser qualificadas como significante e significado, mesmo que seja bastante plausível.

Considerações
A visão saussuriana de língua se dá a partir de sistema num recorte sincrônico. Saussure concebia a língua como um fenômeno social, mas analisava-a como um código e um sistema de signos, apartada da fala, ou seja, importava-lhe o sistema e não o aspecto de sua realização na fala ou no seu funcionamento em textos que configuram ações sociais em verdade.

Para Saussure língua e fala constituem uma dicotomia, já para Marcuschi e Koch, linguistas atuais adeptos à visão bakhtiniana, não pode se postular entre ambas uma dicotomia de polaridades absolutas, mas antes um continnum, pois, na visão bakhtiniana de linguagem, considerar a fala como fenômeno individual e o sistema linguístico como social, como se fossem dois pólos opostos como quer Saussure, é errôneo. Bakhtin recusa-se a separar o individual do social, explica Marcuschi (2008).

Para Bakhtin (2003), a visão saussuriana, a-social e abstrata, postula a linguagem como um sistema estável e imutável de elementos linguísticos idênticos a eles mesmos que pré-existem ao indivíduo falante, a quem não resta alternativa a não ser reproduzi-los.

A meu ver, ao se ocupar da língua, a necessidade de escolha não impediu Saussure de admitir a importância dos estudos da fala. Embora conceda como dicotômicas as relações entre fala e língua, o próprio Saussure autoriza algum olhar entre “língua e fala” como uma 'espécie' de continnum, o que podemos considerar que os estudos de Saussure configuram um primeiro estudo, feito com o propósito de fixar a linguística como ciência. Assim como tudo é mutável e evolui, inclusive a língua, é natural e saudável que surjam novas perspectivas e acertos teóricos, como fez Benveniste, Bakhtin e, se a ciência seguir seu rumo evolutivo, outros bons linguistas farão.


ESTUDO SINCRÔNICO DA LÍNGUA =
SINTAGMA E PARADIGMA
Para Saussure, havia duas formas da ciência linguística observar a língua: em sua época e através do tempo. O único problema da Linguística, com relação a este ponto, seria justamente o fato da língua ocorrer, ao mesmo tempo, em seu tempo e ao longo dele. A língua, ao mesmo tempo em que ocorre no presente relacionando ideias e formas de modo aparentemente estático, atualiza-se, passando do presente ao passado. Sua ocorrência se dá numa série de sucessões de estados linguísticos, através do tempo. Desta forma, a linguística se obriga a empregar dois pontos de vista, aparentemente dissociáveis, para analisar um mesmo objeto.

Para o cientista linguístico compreender a língua e sua relação com o sistema é dispensável que se dedique a investigar o modo e os motivos pelos quais a língua observada alcançou a forma em uso no momento de sua observação. Essa visão estática, desvinculada das ocorrências anteriores que se deram ao longo do tempo, é uma visão sincrônica. Uma abordagem diacrônica, retomando o jogo de xadrez, seria aquela que permitiria ao observador conhecer cada lance da partida até que as peças assumissem a posição atual. Tal observação o daria informações sobre as ocorrências. Sobre como um movimento de uma peça levou a outro sucessivamente e não mais sobre a situação atual do jogo. O objeto, forçosamente, deixaria de ser a situação para ser a evolução; funcionamento e processo histórico.

Desta forma, definiu o linguista que seria mais pertinente observar a língua sob o aspecto sincrônico do seu funcionamento, que do aspecto diacrônico para se obter como efeito uma melhor compreensão do mecanismo linguístico.

SINCRONIA                                                                                      
A sincronia é o eixo em que se estabelecem as relações de significação entre os diversos significantes da língua. Esse eixo é estático até que uma alteração diacrônica provoque uma alteração no estado sincrônico da língua. O significante “você” tem sua significação estabelecida pela oposição aos outros significantes do português corrente (p. ex. “eu”, “ele”).

Saussure considera prioritário o estudo sincrônico porque o falante nativo não tem consciência da sucessão dos fatos da língua no tempo. Para o indivíduo que usa a língua como veículo de comunicação e interação social, essa sucessão não existe. A única e verdadeira realidade tangível que se lhe apresenta de forma imediata é a do estado sincrônico da língua. Além disso, como a relação entre o significante e o significado é arbitrária, estará continuamente sendo afetada pelo tempo, daí a necessidade de o estudo da língua ser prioritariamente sincrônico. Sirva de exemplo o substantivo romaria, que significava originalmente “peregrinação a Roma para ver o Papa”. Hoje, no entanto, é usado unicamente para designar “peregrinação religiosa em geral”. Hoje, por exemplo, são muito comuns as romarias a Aparecida do Norte, em São Paulo.

DIACRONIA                                                                                 
A diacronia é o eixo em que acontecem as modificações da língua no decorrer da história. Por exemplo: “vossa mercê” transformou-se em “vosmicê” que transformou-se em “você”. Obviamente, isso me remete à ideia de condensação em Freud. Dois significantes que permanecem até hoje em nossa língua se condensaram num só que exerce função diversa dos significantes a partir dos quais foi engendrado. Isso, por conta de uma alteração fonética, como o exemplo dado faz notar bem. É na efetividade histórica da fala, e para “facilitação” da fala, que ocorrem essas alterações.

Considerações
Os dois eixos (sincrônico e diacrônico) são portanto transversais. Seguindo pelo eixo diacrônico podemos percorrer a história de uma língua, encontrando os diversos estados sincrônicos que já se estabeleceram.

Saussure postula a prioridade da sincronia, mas convém lembrar que prioridade não significa exclusividade. Entendo a distinção sincronia / diacronia unicamente como procedimentos metodológicos de análise linguística, uma vez que Saussure buscava definir um objeto de estudo para a linguística e para tanto ponderou ser, no momento, a língua e a sincronia perspectivas mais sólidas e estáveis para se estudar. A esse respeito, ouçamos as ponderações, até certo ponto premonitórias, do próprio Saussure (p. 16):

A cada instante, a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante, ela é uma instituição atual e um produto do passado
A língua, portanto, será sempre sincronia E diacronia em qualquer momento de sua existência. O ponto de vista da ciência linguística é que poderá ser ou sincrônico ou diacrônico, dependendo do fim que se pretende atingir. E há determinados casos, por exemplo, em que a descrição sincrônica pode perfeitamente ser conjugada com a explicação diacrônica, enriquecendo-se, desse modo, a análise feita pelo linguista. Por exemplo, podemos descrever o verbo pôr como pertencente à segunda conjugação, apelando para as formas sincrônicas atuais pões, põe, puseste, etc., além dos adjetivos poente e poedeira, nos quais o -e- medial aí existente (ou remanescente) funciona estruturalmente como vogal temática. Ao mesmo tempo, podemos enriquecer a descrição sincrônica, complementando-a com a explicação diacrônica: o atual verbo pôr já foi representado pelo infinitivo arcaico poer, que, por sua vez, se vincula ao latim vulgar ponere, com a seguinte cadeia evolutiva: poněre > ponēre > poner > põer > poer > pôr.

Encarados sob essa perspectiva, os pontos de vista sincrônico e diacrônico não são excludentes, ao contrário, são complementares. Seja como for, vale registrar que Saussure, deixando de se preocupar com o processo pelo qual as línguas se modificam, para tentar saber o modo como elas funcionam, deu, coerentemente, primazia ao estudo sincrônico, ponto de partida para a Linguística Geral e o chamado método estruturalista de análise da língua.

SINTAGMA                                                                                      
Para Saussure, tudo na sincronia se prende a dois eixos: o associativo (= paradigmático) e o sintagmático. As relações sintagmáticas baseiam-se no caráter linear do signo linguístico, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo (p. 142). A língua é formada de elementos que se sucedem um após outro linearmente, isto é, “na cadeia da fala”. À relação entre esses elementos Saussure chama de sintagma.

Como a relação sintagmática se estabelece em função da presença dos termos precedente e subsequente no discurso, Saussure a chama também de relação in præsentia.

Colocado na cadeia sintagmática, um termo passa a ter valor em virtude do contraste que estabelece com aquele que o precede ou lhe sucede, “ou a ambos”, visto que um termo não pode aparecer ao mesmo tempo que outro, em virtude do seu caráter linear. Em “Hoje fez calor”, por exemplo, não podemos pronunciar a sílaba je antes da sílaba ho, nem ho ao mesmo tempo que je; lor antes de ca, ou ca simultaneamente com lor é impossível. É essa cadeia fônica que faz com que se estabeleçam relações sintagmáticas entre os elementos que a compõem.

Por outro lado, fora do discurso, isto é, fora do plano sintagmático, se, em “Hoje fez calor”, dizemos hoje pensando opô-lo a outro advérbio, ontem, por exemplo, ou fez em oposição a faz, e calor a frio, estabelecemos uma relação paradigmática associativa ou in absentia, porque os termos ontem, faz e frio não estão presentes no discurso. São elementos que se encontram na nossa memória de falante numa série mnemônica virtual, conforme esclarece Saussure na pág. 143 do CLG. Define-se o sintagma como a combinação de formas mínimas numa unidade linguística superior.

Trata-se, portanto, de relações (relação = dependência, função) onde o que existe, em essência, é a reciprocidade, a coexistência ou solidariedade entre os elementos presentes na cadeia da fala. Essas relações sintagmáticas ou de reciprocidade existem, a nosso ver, em todos os planos da língua: fônico, mórfico e sintático, ao contrário do que deixa entrever a definição do próprio Saussure, que nos induz a conceber o sintagma apenas nos planos mórfico e sintático.

Sendo assim, o sintagma, em sentido lato, é toda e qualquer combinação de unidades linguísticas na sequência de sons da fala, a serviço da rede de relações da língua. Por exemplo, no plano fônico, a relação entre uma vogal e uma semivogal para formar o ditongo (ai /ay/); no nível mórfico, a própria palavra, com seus constituintes imediatos, é um sintagma lexical (am + a + va + s); sintaticamente, a relação sujeito + predicado caracteriza o sintagma oracional (Pedro / estudou a lição.).

PARADIGMA                                                                                   
O paradigma é assim uma espécie de “banco de reservas” da língua, um conjunto de unidades suscetíveis de aparecer num mesmo contexto. Desse modo, as unidades do paradigma se opõem, pois uma exclui a outra: se uma está presente, as outras estão ausentes. É a chamada oposição distintiva, que estabelece a diferença entre signos como gado e gato ou entre formas verbais como estudava e estudara, formados respectivamente a partir da oposição sonoridade / não-sonoridade e pretérito imperfeito / mais-que-perfeito. A noção de paradigma suscita, pois, a ideia de relação entre unidades alternativas. É uma espécie de reserva virtual da língua.

Uma Visão Estilística: No plano da expressão, as relações paradigmáticas operam com base na similaridade de sons. É o caso das rimas (“Mas que dizer do poeta / numa prova escolar? / Que ele é meio pateta / e não sabe rimar?”, Carlos Drummond de Andrade), aliterações (“Vozes veladas, veludosas vozes”, Cruz e Sousa), assonâncias (“Tíbios flautins finíssimos gritavam”, Olavo Bilac), homoteleutos [ou homeoteleutos] (“Rita não tem cultura, mas tem finura”, Machado de Assis). No plano do conteúdo, as relações paradigmáticas baseiam-se na similaridade de sentido, na associação entre o termo presente na frase e a simbologia que ele desperta em nossa mente. É o caso da metáfora: “O pavão é um arco-íris de plumas.” (Rubem Braga), ou seja, arco-íris = semicírculo ou arco multicor. Embora presente no texto em prosa, a metáfora é mais usual na poesia.

Já a metonímia, mais comum na prosa, por basear-se numa relação de contiguidade de sentido, atua no eixo sintagmático. Ex.: O autor pela obra: “Gosto de ler Machado de Assis”; a parte pelo todo: “Os desabrigados ficaram sem teto” (= casa); o continente pelo conteúdo: “Tomei um copo de vinho” (o vinho contido no copo), etc.

Conclusão
A visão saussuriana da língua como um sistema de valores está intimamente associada à sua célebre frase: “na língua só existem diferenças”, ou seja , ela funciona sincronicamente e com base em relações opositivas (paradigmáticas) no sistema e contrastivas (sintagmáticas) no discurso. Tendo como ponto de partida as ideias motrizes contidas no Curso de linguística geral, formaram-se várias escolas estruturalistas (fonológica de Praga, estilística de Genebra, funcionalista de Paris, glossemática de Copenhague), que deram consequência e continuidade ao pensamento infelizmente inacabado do genial fundador da Linguística moderna.

A visão da língua como um sistema semiológico, a teoria do signo, com seus dois princípios fundamentais: arbitrariedade / linearidade, a diferença entre sincronia (funcionamento) e diacronia (evolução), a distinção fonética / fonologia, fone / fonema, a dupla articulação da linguagem (1ª = plano do conteúdo ou morfossintaxe; 2ª = plano da expressão ou fonologia), as noções de morfema e gramema, a tricotomia língua / fala / norma são categorias linguísticas extremamente férteis, todas decorrentes do pensamento de Saussure e hoje definitivamente incorporadas às ciências da linguagem.
______________________________________________
Fontes:


Arquivo Cultura de Travesseiro

O Filho Eterno - Cristóvão Tezza
A Teoria da Comunicação
A Língua do Brasil Amanhã e Outros Mistérios
Subjetividade da Fala - Benveniste
A Linguagem das Placas
Blogs em Sala de Aula
O Dinamismo Lexical: O Dizer Nosso de Cada Dia
Sobre o Ensino de Português na Escola - Sírio Possenti
"Estrangeirismos: Desejos e Ameaças" - Carlos Alberto Faraco
Resumo: Poesia Não é Difícil - Introdução à Análise de Texto Poético - Carlos Felipe Moisés
Oralidade e Letramento - Luiz Antônio Marcuschi
Gêneros Textuais
A Função da Escola
Educação como Redenção da Sociedade
Educação como Reprodução da Sociedade
Educação como Transformação da Sociedade

Comentários

  1. Precisa de um hacker, por que não tentar cantect
    Seguindo Alliancehacker999@gmail.com:
    : Gerenciamento de contas
    pirata de hackers
    : Banco / caixa eletrônico
    : Contas de e-mail
    : Mudanças no grau
    : Hackear o site estrelado
    : Servidor caiu
    : Recuperar arquivos / documentos perdidos
    : Excluir registros criminais
    : Cada conta de mídia social
    : Hacking de banco de dados
    : Venda de cartões de download de todos os tipos
    : Ip indetectável
    : Piratas de computador único
    : Sites de hackers
    Hack do Facebook
    : Controle remoto do dispositivo
    : Números do queimador
    : Contas verificadas do PayPal
    : Android Hack e iPhone
    : Hackeando blogs do WordPress
    : Hackeando a mensagem de interceptação de texto
    : Ouvir correio eletrônico, e.t.c
    Entre em contato conosco em allianzhacker999@gmail.com

    ResponderExcluir

Postar um comentário

PARTICIPE! COMENTE ESTE POST...