A Linguagem das Placas

A proposta deste trabalho é dialogar com o artigo A Linguagem das Placas (original aqui), do professor Edmilson José de Sá, publicado na revista Língua Portuguesa. O artigo foi inspirado no livro O Brasil das Placas: Viagem por um País ao Pé da Letra (visite o site) lançado pelo jornalista José Eduardo Camargo, que, em suas viagens pelo país, começou a colecionar fotos de placas curiosas que encontrava pelo caminho. O resultado de tal coleção, afirma o professor José de Sá, foi este acervo de placas que muito mais do que provocar humor involuntário, são mostras de fenômenos linguísticos relevantes.

No primeiro tópico de seu artigo, José de Sá discorre sobre a diversidade linguística e a postura da escola e do professor diante dessa. Preocupação, afirma Sá, discutida não só por Labov, como também por vários outros autores e estudiosos da língua. A escola, na ânsia de fazer com a norma padrão, ou culta, seja prioritária, trata tudo o que o aluno diz ou escreve como errado, sem considerar que ele faz parte de um mundo recheado de padrões sociais, econômicos e culturais distinto do que se tem no espaço escolar. Diante desta preocupação é que Sá afirma:
Analisar a linguagem das placas contendo propagandas, avisos, solicitações dispostas em todo o País e, quase que categoricamente, dotadas de inscrições lingüísticas altamente heterogêneas parece ser conveniente, uma vez que este tipo de linguagem escrita se propaga a cada dia.

LÍNGUA E FALA

Estabelecendo alguns conceitos de norma, postulado pelo linguísta Coseriu, que diz que norma constitui um primeiro grau de formalização, com estruturas que são normais e tradicionais na comunidade falante, Sá dispõe que norma é aquilo que é “variável segundo os limites e a índole da comunidade considerada”.

Quando tratamos de fala nos deparamos, também, com as variações que ocorrem em função das pessoas que utilizam a língua em níveis tais como o territorial, o social e o etário, além de fatores como sexo e características profissionais. Então, podemos inferir que norma é aquilo que em uma comunidade linguística é “normal” para seus falantes.

A NOÇÃO DO ERRO

Mostrando o anúncio “Vende-se calvão”, Sá explica que o falante tenta adequar a sua linguagem à variedade linguística na qual está inserido e, por tanto, há de se refletir sobre o que é culto, ou o que é do meio. Como nos exemplos das placas selecionadas abaixo:

A COERÊNCIA

A coerência, elucida Sá, resulta do tripé de níveis semântico, pragmático, estilístico e sintático, discursivo, cultural e interacional, dentro dos quais estão inseridos fatores que Beaugrande & Dressler usam para nomear uma produção textual, quais seja: o conhecimento de mundo, as inferências, a contextualidade, a situacionalidade, a informatividade, a intencionalidade, além da relevância. 

ESTRANGEIRISMOS

Diariamente nos deparamos com palavras e expressões estrangeiras inseridas em nossa língua, suprindo as necessidades decorrentes da globalização. É necessário que o falante use o termo estrangeiro não como um adversário do seu idioma, mas como recurso importante na sua produção.

Sá diz-se, ainda, preocupado com que o uso exagerado de estrangeirismos acarrete a desvalorização da língua materna, ao que nos perguntamos: a “desvalorização” da língua dar-se-á pelo uso de palavras estrangeiras ou pela permissividade de utilizações tão variadas da língua materna?

Não temos, ainda, uma resposta bem formulada para tal questão, mas consideramos pertinentes tais reflexões sobre com o que devemos nos preocupar para não “desvalorizar” a língua. Respeito à diversidade e a pluralidade é inquestonável, mas alarmar-se com menoridades sendo permissivo a maioridades é um tanto contraditório.


LEITURA DE IMAGENS:O SIGNIFICADO DA MENSAGEM

 O ensino da leitura na escola muitas vezes fica restrito à modalidade escrita. Pouco se trabalha com a leitura de imagens, embora o mundo esteja cada vez mais cheio delas. Cabe à escola fornecer elementos para que os alunos possam ler e interpretar imagens.

Para realizar esse trabalho, o professor pode, por exemplo, apresentar inicialmente apenas a mensagem escrita contida em uma das placas. Feita essa apresentação, o professor deve fazer os alunos refletirem sobre o sentido da mensagem.

Depois de apresentar a fotografia da placa, pode-se questionar novamente o sentido da mensagem e quais elementos permitiram esse “novo” sentido.


 
 O PAPEL DA ESCOLA

José de Sá encerra seu texto refletindo sobre o papel da escola: A escola desempenha um papel fundamental em orientar o indivíduo para o fato de que não existe português errado, nem o certo, mas sim uma norma padrão a ser seguida, a fim de que o sujeito tenha êxito na sociedade em que está inserido.













Referências
http://www.trampo.com.br/brasildasplacas/
http://placasridiculas.blogspot.com/


Arquivo Cultura de Travesseiro
A Função da Escola
Blogs em Sala de Aula
O Dinamismo Lexical: O Dizer Nosso de Cada Dia
Sobre o Ensino de Português na Escola - Sírio Possenti
"Estrangeirismos: Desejos e Ameaças" - Carlos Alberto Faraco
Resumo: Poesia Não é Difícil - Introdução à Análise de Texto Poético - Carlos Felipe Moisés
Oralidade e Letramento - Luiz Antônio Marcuschi
Gêneros Textuais

Comentários

  1. Oi Angela!

    As placas acima, provavelmente foram escritas por pessoas bem simples e com pouco ou nada de estudo.
    Sabe...
    Tenho percebido que a gurizada da atual geração (internet) tem muita dificuldade na escrita e interpretação de texto. Inclusive alguns, com formação universitária.
    Falta trabalhar mais a base e também estimular a leitura e as artes.
    Obras mais elaboradas e que trabalhem com simbologias, auxiliam no processo de interpretação e senso crítico.

    Balaio Variado

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  2. Sim, concordo plenamente consigo Angela , eu Artista plást., pintar diaria/não deixo de andar sempre a ler um livro ou até 2 .Leio quando calha , no metro, no café , no banco do jardim e a noite antes de adormecer.
    Gostaria de a conhecer

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