Reúne então, esse gênero ficcional, as características que a sociedade pós-moderna busca em suas atividades cotidianas: a rapidez, o imediatismo, a liberdade de mobilidade num mundo em constante movimento. Giardelli, em sua obra Assim se escreve um conto, percebeu que o conto é o gênero do tempo contemporâneo, o gênero que tem assegurado o seu porvir, melhor definido em suas próprias palavras:
Na minha opinião, o conto é o gênero literário mais moderno e que tem a maior vitalidade. Por um lado porque – sabe-se – o homem e a mulher jamais deixam de contar o que lhes aconteceu. Por outro porque, por mais cansativa que seja a vida humana, as pessoas sempre terão – nessa época e nas próximas – cinco ou dez minutos para saborear um conto bem escrito. Como é um gênero que terá assegurado o seu porvir – costumo brincar – ao menos enquanto as pessoas tiverem abajures na cabeceira da cama, forem ao banheiro ou viajarem de ônibus. (GIARDINELLI, apud OGLIARI, 2007, p. 12)
Diante da produção literária da última década, podemos observar uma fértil e curiosa proliferação de “produtores” literários, usando termo de Even-Zohar. Contrários às constatações de que não existem, no Brasil, leitores; de que os jovens têm dificuldades em escrever ou ler; de que a internet empobrece a escrita; e de que o livro é produto pouco vendido, escritores vários, notoriamente jovens, surgem e movimentam a literatura e o fazer literário, configurando um fenômeno, no mínimo, contraditório e curioso. Nelson de Oliveira , já na última década do século XX, ocupou-se em mapear a produção literária vigente reunindo em coletâneas, contos escritos por esses novos autores que vinham despertando a atenção dos leitores contemporâneos e o interesse do mercado literário. Organizou, à época, duas antologias da geração 90, pelas quais se deram a conhecer mais amplamente ou firmaram reputação autores como Marcelino Freire, Luiz Ruffato, Rubens Figueiredo, André Sant’Anna, entre outros. Com o mesmo propósito, reunir textos de escritores jovens que vêm se destacando no cenário literário, Oliveira organizou, em 2011, uma antologia de contos de autores revelados na primeira década do século XXI. Geração Zero Zero: Fricções em Rede reúne, então, vinte e um ficcionistas brasileiros que estrearam a partir do ano 2000, contribuindo para que se saiba o que vem sendo feito na literatura brasileira desde o início deste século. Beatriz Resende, em resenha sobre a coletânea, afirma que “Geração Zero Zero é um mapeamento sério e competente do que tem sido publicado em prosa de ficção nos últimos anos”.
Mas o projeto de conhecer, avaliar e selecionar a contística desses escritores não foi tarefa fácil. Nelson de Oliveira trabalhou por três anos na seleção dos melhores escritores, pois, conforme explica na introdução de sua antologia, “o número é gigantesco, não resta dúvida, pois nunca se publicou tanto como nesse período” (p. 13). Diferente das ontologias tradicionais, o organizador não se preocupou em reunir os melhores contos produzidos, visto que quase na totalidade os contos publicados na edição são inéditos, como explica: “esta não é uma seleção dos melhores contos da geração Zero Zero, mas dos melhores autores”. (p. 15)
Com o advento das novas tecnologias de informação e, claro, da internet – a protagonista da era digital -, a preocupação de teóricos e literatos com o futuro do livro ou da escrita literária, mostra-se descabida. Presencia-se hoje a descentralização da produção literária, a fertilidade de uma novíssima geração de escritores que soube fazer da internet um meio pelo qual chegar aos leitores sem a intervenção primeira das editoras renomadas. Escritores que através dos blogs, redes sociais e sites, inauguraram e impuseram novas formas de relação do livro com o mercado editorial e fizeram da cibercultura sua estratégia de atuação e da literatura a sua arte. Tais considerações são apontadas por Oliveira:
Muitos deles surgiram primeiro na maçaroca líquida da web. Apesar disso, a internet e suas redes sociais — sites, blogues, Orkut, Facebook, Twitter etc. — afetam essa geração apenas superficialmente. Se a internet prometeu, no seu primórdio, revolucionar a literatura por meio do hyperlink, essa promessa ainda não foi cumprida. Sites, blogues e miniblogues (Twitter) são ótimos veículos para a literatura, pois condensam numa só pessoa a figura do autor, do editor, do impressor e do livreiro. Também são ótimos veículos para a divulgação da literatura, espalhando resenhas e releases. Mas essas ferramentas digitais não representam por si sós uma nova linguagem literária. Aliás, a web ainda não conseguiu sequer modificar profundamente a estrutura literária off-line. Experiências hipertextuais como o Livro, de Mallarmé, ou O jogo da amarelinha, de Cortázar, ainda dão de dez a zero em qualquer experiência on-line. (OLIVEIRA, 2011, p. 14).
Dentre os vinte e um escritores do Geração Zero Zero, quatro são do Rio Grande do Sul. Figuras já conhecida no circuito literário gaúcho, Marcelo Benvenutti, Daniel Galera, Paulo Scott e Verônica Stigger foram selecionados por Nelson Oliveira como os melhores escritores do Estado. Com exceção de Galera - que nasceu em São Paulo, mas radicou-se na capital sulina desde cedo -, os escritores gaúchos participantes da coletânea, nasceram em Porto Alegre e, claro, tiveram suas primeiras obras publicadas a partir do ano 2000. Dentro da multiplicidade da literatura contemporânea há questões predominantes e preocupações comuns manifestas nessas produções. O sentido de urgência, a violência urbana, a primazia pelo grotesco e pelo bizarro, o retorno do trágico são algumas das especificidades dessa literatura apontadas por Beatriz Resende, em seu livro Contemporâneos – expressões da literatura brasileira no século XXI, (2008).
É preciso lembrar, antes de finalizar, que “Geração Zero Zero” é uma coletânea organizada por uma pessoa que admira os escritores nela publicados e que se interessa em mapear a literatura que vem sendo produzida por essa geração pós-moderna. Porém, devemos ressaltar que toda geração não é construída por apenas 21 escritores e aqui no estado do Rio Grande do Sul há muito mais que quatro bons escritores. Carol Bensimon, Rafael Bán Jacobsen, Daniel Pellizzari e Ítalo Ogliari, apara citar alguns, são nomes que poderiam estar neste livro. Anda assim a ontologia é uma boa forma de conhecer esta ínfima parte da criação literária brasileira, mas não única. Para se conhecer os tempos em que se vive é preciso conhecer a literatura que nesse tempo se produz, pois como disse Jean-Paul Sartre “o escritor escolheu o mundo e especialmente a revelação do homem aos outros homens para que estes adquiram, em face do objecto assim desnudado, toda a sua responsabilidade a função do escritor é fazer com que ninguém possa ignorar o mundo e que ninguém se possa dizer inocente”.
ARQUIVO CULTURA DE TRAVESSEIRO
A Presença de Jovens Escritores, do Século XXI, no Rio Grande do Sul
Carol Bensimom - Jovens Escritores do RS
Fabrício Carpinejar - Jovens Escritores do RS
Daniel Pelizzari – Jovens Escritores do RS
Daniel Galera – Jovens Escritores do RS
Paulo Scott - Jovens Escritores Escritores
A Importância da Literatura
Novos Escritores
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