Tendências do Jornalismo - Francisco Rüdiger


O jornalismo gaúcho experimentou até os dias atuais sumariamente dois regimes: o regime político partidário, estruturado após a Revolução Farroupilha e constituído pelos tipógrafos que configuram “as raízes do jornalismo no Rio Grande do Sul”; e o regime dominado pelo jornalismo informativo e a indústria cultural que originaram algumas das empresas de comunicação consolidadas até hoje no estado e várias das práticas do jornalismo ainda vigentes.

Uma síntese da história do jornalismo no estado do Rio Grande do Sul, contada a partir do ponto de vista histórico social, delineada cronologicamente é a proposta do professor e escritor Francisco Rüdiger em sua obra “Tendências do Jornalismo”, lançada, em sua 3º edição, pela editora Ufrgs no ano de 2003. A obra que integra o projeto Síntese Rio-Grandense subdivide-se em quatro capítulos, tendo início nas “Raízes do Jornalismo Rio-Grandense”, seguidos pela apresentação do que consistem os chamados “Jornalismo Político-Partidário” e “Jornalismo Literário Independente” e concluindo sua reconstrução histórica no “Jornalismo Informativo Moderno”.

O Jornalismo como prática social consistente nasceu dentro do processo de formação do mundo moderno em meados do século XVII, devido à necessidade iminente do Estado de formular meios de comunicação que firmasse e estendesse seu domínio. No Rio Grande do Sul, a gênese da imprensa está ligada ao processo político que acarretou a Revolução Farroupilha – “a imprensa foi o bastidor intelectual da Revolução”, afirma Rüdiger. Nesta época as tipografias constituíam pontos de reunião de facções políticas que encarregavam seus membros de redigirem periódicos, a que surge então o primeiro jornal gaúcho - o Diário de Porto Alegre, inaugurando, no estado, a chamada imprensa.

Os tipógrafos figuram, segundo o autor, as raízes do jornalismo que não tendo ainda um estatuto definido, designava seus realizadores de “escritores públicos”. A carreira desses pioneiros, de redação política exagerada e apaixona, foi conflituosa e violenta - sofriam represálias, eram alvo de agressões físicas e frequentemente vítimas de processo e prisões por crimes de imprensa. Os pasquins, céleres pelos ataques morais e abusos de linguagem que continuamente despertavam a ira das autoridades, expressam bem esse jornalismo conflituoso. As recorrentes perseguições policiais aos pasquineiros marcaram o nome do pasquim, que entrou em declínio na metade do século, dando luz às folhas político- partidárias, no folclore jornalístico.

No segundo capítulo de sua obra, Rüdiger afirma que com a consolidação do regime monárquico constitucional e do sistema parlamentar, o jornal tornou-se um meio de ascensão política e os partidos passaram a lançar seus próprios periódicos, originando assim o chamado jornalismo político-partidário. A imprensa perde a forma artesanal, melhora a qualidade gráfica, mas não deixa ainda de constituir uma atividade precária, devido ao baixo poder aquisitivo e escolaridade da população da época e também ao sistema escravagista, explica o autor. Os conflitos políticos da época ultrapassam as páginas dos jornais e a imprensa segue a linha conflituosa dos pasquins.

A violência contra a liberdade de expressão é prática comum à época. Com a Revolução Federalista a censura policial é marcada pelo “regimento da rolha” e tais excessos prolongam-se até 1932, quando surge a “imprensa libertadora” e a violência tende a uma diminuição gradativa. Com o regime imposto pelo Estado Novo muitos jornais são abolidos e os que sobrevivem adotam a linha mais noticiosa o que introduz uma nova fase na trajetória jornalística.

As transformações da estrutura econômica e a nova exigência cultural da época principiaram a neutralidade nos novos jornais que, conforme aponta Rüdiger, não mais se subtraem às convenções partidárias e passam a promover “o interesse geral da sociedade”. A prática agora é o jornalismo noticioso, em ascensão já desde meados dos anos 10 como cultura jornalística alternativa , matéria do escritor Francisco Rüdiger no seu terceiro capítulo titulado “O jornalismo literário independente”.

Na prática do jornalismo literário os textos não se baseavam em informações mas em comentários opinativos e esta prática aos poucos cedeu espaço às seções noticiosas que foram se tornando a principal preocupação dos jornais. Já nas primeiras décadas do século 20 os jornais vinham se ligando progressivamente as condições determinadas pelo capitalismo adotando padrões de organização empresarial, “o jornalismo tornou-se um empreendimento com finalidade lucrativa”, ressalta Rüdiger. O Correio do Povo e o Diário de Notícia formaram a vanguarda do jornalismo gaúcho, guiadas pelos novos moldes e conceitos jornalísticos sendo que o desenvolvimento do jornalismo moderno no estado está diretamente ligado ao nome do jornal Correio do Povo.

O jornalismo informativo moderno adquiriu as feições gráficas que em linhas gerais conhecemos até hoje. Os jornalistas se profissionalizam, transformando-se em categoria assalariada. No interior a imprensa entra em crise por não conseguir fazer concorrência aos modernos jornais da capital que se habituaram naturalmente a explorar o negócio da radiodifusão que acabou por tornar-se, rapidamente, o principal meio de formação e informação da opinião pública no Rio Grande do Sul e no Brasil.

Enfim,o livro Tendências do Jornalismo, constituído através de um laborioso e minucioso trabalho de pesquisa, vale como significativo e importante registro do desenvolvimento do nosso jornalismo. Apropriando-se da técnica da escrita e leitura ágil, a obra nos leva além de um simples resgate da formação da imprensa em nosso estado, uam vez que nos conduz a um interessante passeio pelos capítulos da história social do estado do Rio Grande do Sul.


L.S


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